SÓFIA - As sanções não fecharam as portas para o diálogo sobre o programa nuclear iraniano, mas cabe agora ao Irã dissipar os temores de parte da comunidade internacional sobre suas intenções nessa área, afirmou nesta quarta-feira, 23, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, durante visita a Sófia, na Bulgária.
Amorim disse saber que "houve temores expressos pelo Grupo de Viena", formado por EUA, França, Rússia e pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), por causa do acordo firmado em maio entre Irã, Brasil e Turquia. "Eu acho que agora cabe ao Irã reagir a eles."
O acordo tripartite prevê que o Irã envie urânio pouco enriquecido para o território turco, recebendo em troca combustível para seu reator nuclear em Teerã. O documento foi recebido friamente pelas potências lideradas pelos EUA, que acabaram aprovando uma quarta rodada de sanções ao Irã no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), em junho. "Minha opinião sincera é que as sanções não ajudam. Mas estou encorajado pelo fato de que o Irã teve até agora uma resposta mais flexível", avaliou Amorim.
O ministro das Relações Exteriores búlgaro, Nikolay Mladenov, disse ser importante que as novas sanções "não fechem a porta para as negociações e conversas com o Irã". "Eu concordo que talvez as sanções não fechem a porta (para o diálogo), espero que seja este o caso. Mas acho que a pressa por sanções foi um pouco desapontadora, do meu ponto de vista", afirmou Amorim.
O Brasil e a Turquia, membros não permanentes do Conselho de Segurança, votaram contra as novas sanções. O Líbano se absteve, mas os outros países - incluindo os cinco permanentes, EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia e China - aprovaram as sanções.
Amorim disse que se sentiu encorajado pelo fato de o presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmar que a França quer continuar negociando com o Irã.
As sanções eram pretendidas pelas potências ocidentais pelos temores de que o programa nuclear do Irã tenha como objetivo a produção de armas nucleares. Teerã, porém, nega e diz que enriquece urânio apenas para fins pacíficos.
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