Casa Branca rechaça envio de tropas a Gaza após Trump falar em assumir o controle do território

Contradizendo o presidente, Casa Branca disse que o deslocamento de palestinos seria temporário; secretário-geral da ONU alerta contra limpeza étnica

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - O governo americano agiu em duas frentes nesta quarta-feira, 5, para rechaçar envio de tropas para a Faixa de Gaza, um dia depois de o presidente Donald Trump falar em expulsar os 2 milhões de palestinos do enclave para reconstruí-lo e colocá-lo sobre controle dos EUA.

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Enquanto a Casa Branca disse que o presidente não se comprometeu a mandar tropas para o terreno e que o deslocamento de palestinos seria temporário, o secretário de Estado, Marco Rubio, disse que Trump teria colocado os EUA à disposição para reconstruir Gaza. Ele descreveu a oferta como “generosa”.

A retratação ocorre após 24 horas de indignação da comunidade internacional sobre a proposta de Trump, feita durante uma reunião com o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, na terça-feira.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou o plano de Trump como uma forma de limpeza étnica. “Na busca de soluções, não devemos piorar o problema”, disse Guterres, em uma reunião anual de um comitê da ONU que protege os direitos dos palestinos. “É fundamental manter-se fiel à base do direito internacional.

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Presidente Donald Trump propõe controle americano sobre a Faixa de Gaza em entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro de Israel Binyamin Netanyahu.  Foto: Evan Vucci/Associated Press

No Congresso americano, até mesmo aliados do presidente expressaram ceticismo com o plano. O senador Josh Hawley, republicano do Missouri, disse que “não acha que seja o melhor uso dos recursos dos Estados Unidos gastar um monte de dinheiro em Gaza”, acrescentando que preferiria que o dinheiro “fosse gasto primeiro nos Estados Unidos”.

O senador Lindsey Graham, republicano da Carolina do Sul, disse que o plano “pode ser problemático”, mas se comprometeu a “manter a mente aberta”. Ele acrescentou que os Estados Unidos “veriam o que nossos amigos árabes têm a dizer sobre” a proposta do presidente.

‘Riviera do Oriente Médio’

Na reunião com Netanyahu, Trump sugeriu que os Estados Unidos deveriam assumir a “propriedade” e reconstruir o território devastado pela guerra na “Riviera do Oriente Médio”.

Desde o início da guerra, elementos mais radicais da coalizão de Netanyahu defendem a expulsão dos palestinos de Gaza e a transformação do enclave em assentamentos judaicos, e o governo israelense chegou a discutir o tema internamente.

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Egito e Jordânia, os dois principais vizinhos árabes seculares de Israel, se opõem radicalmente à proposta e dizem que ela ameaça a paz com o Estado judeu.

A Arábia Saudita, um importante aliado americano e fiadora do plano para colocar fim à guerra, criticou com dureza a ideia de Trump de assumir o controle da Faixa de Gaza, observando que seu longo apelo por um Estado palestino independente era uma “posição firme, constante e inabalável”.

Evitando o estrago

Com a pressão, autoridades da Casa Branca buscaram se desvencilhar do controvertido plano. Questionado pela imprensa, o secretário de Estado Marco Rubio, chefe da diplomacia americana, disse que Trump estava apenas propondo apenas reconstruir a Faixa de Gaza, e não reivindicar a posse indefinida do território palestino.

“Foi uma atitude, creio eu, muito generosa, a oferta de reconstrução, de ser responsável pela reconstrução de um lugar em muitas partes do qual, neste momento, mesmo que as pessoas se mudem de volta, elas não terão onde viver com segurança, porque ainda há munições não detonadas, detritos e escombros”, disse Rubio.

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“E a única coisa que o presidente Trump fez, de forma muito generosa, na minha opinião, foi oferecer a disposição dos Estados Unidos de intervir, limpar os escombros, limpar o local de toda a destruição que está no chão, limpar todas essas munições não detonadas”, insistiu.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, por sua vez, disse que o presidente não se comprometeu com envio de tropas, mas não explicou como os Estados Unidos poderiam assumir o controle do enclave sem usar a força militar.

A posição é diferente da que foi expressa por Trump no dia anterior. Questionado se enviaria tropas americanas, ele respondeu: “Faremos o que for necessário. E se for necessário, faremos isso. Vamos assumir o controle dessa parte”.

Ao comentar o que chamou de “ideia fora da caixa”, ela também contradisse as sugestões de Trump de que os residentes da Faixa de Gaza seriam permanentemente realocados em outro lugar. “O presidente deixou claro que eles precisam ser temporariamente realocados para fora de Gaza”, disse. “É um local de demolição”.

Trump havia dito, contudo, que os palestinos poderiam ser deslocados de forma permanente. “Se pudermos conseguir uma bela área para reassentar as pessoas, permanentemente, em belas casas onde elas possam ser felizes e não sejam baleadas, mortas ou esfaqueadas até a morte, como está acontecendo em Gaza”, sugeriu./NYT, AP e AFP