O cumprimento do pedido de prisão do juiz federal Claudio Bonadio contra a ex-presidente argentina Cristina Kirchner esbarra em travas políticas e administrativas. Para se derrubar a imunidade parlamentar conquistada por ela em outubro, quando foi eleita senadora, seriam necessários 48 votos - dois terços desta Casa.
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O bloco peronista que se afastou do kirchnerismo após a saída de Cristina do poder tem 25 parlamentares, que respondem ao senador Miguel Pichetto. Embora dispute com Cristina no Senado o papel de líder da oposição ao presidente Mauricio Macri, ele já disse que não pretende apoiar a retirada do foro privilegiado de um parlamentar, a menos que haja condenação definitiva.
O ex-presidente Carlos Menem, acusado de corrupção, está no bloco de Pichetto, tem condenações ainda não confirmadas em última instância e segue exercendo o mandato. Assim, embora Cristina tenha apenas 8 senadores em sua bancada, é improvável que tenha contra si a mobilização necessária para levá-la à prisão, pelo menos neste caso.
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Outro fator que deve impedir o cumprimento do pedido judicial de Bonadio, que comanda as principais investigações contra a ex-presidente, é prático. O Senado tem poucas sessões ordinárias este mês e só voltará do recesso em março. Convocações extraordinárias são raríssimas, o que na prática dá tranquilidade por ora a Cristina.
Em outubro, o ex-ministro kirchnerista Julio De Vido perdeu o foro privilegiado que tinha como deputado em votação de seus colegas. Foi preso e deu indícios de que poderia dar detalhes de corrupção na concessão de obras que envolveriam Cristina. Diversos peronistas que participaram do governo de Néstor e Cristina votaram contra o "superministro" na Câmara. No Senado, isso não deve ocorrer contra Cristina.
* É EDITOR DE INTERNACIONAL