PUBLICIDADE

Chegou a hora de Israel decidir seu futuro

Atual impasse no diálogo de paz é insustentável para todos

Por Roger Cohen
Atualização:

Todo primeiro-ministro israelense dos últimos anos fez coisas que jamais sonhou fazer. Não vou lembrar a lista toda, mas considerem a virada de Yitzhak Rabin de "quebrem seus ossos" para príncipe da paz, a decisão de Ariel Sharon de retirar os israelenses da Faixa de Gaza, e a conclusão de Ehud Olmert de que um acordo com os palestinos requeria "uma retirada de quase todos - se não todos - os territórios ocupados".O que Bibi Netanyahu estará preparado para fazer que jamais sonhou? Ele chegou recentemente a "dois Estados para dois povos", mas isso foi mero jogo de esconde-esconde. Para além das conversas irrelevantes com foco no que acontecerá na Cisjordânia nos próximos 60 dias, está a questão central de onde Bibi imagina um Estado palestino.Os palestinos declararam sua posição: as fronteiras de 1967 mais ou menos trocas de terras acertadas, significando um Estado na Cisjordânia e em Gaza tendo Jerusalém Oriental como capital. Em troca, o presidente Mahmoud Abbas disse que palestinos retirariam todas as "demandas históricas" e viveriam em paz ao lado de Israel "seguro".Netanyahu e os israelenses têm razões para ceticismo, quando menos a divisão Fatah-Hamas no movimento palestino e a retirada de Gaza ter resultado nos foguetes do Hamas.Proposta concreta. O presidente Barack Obama precisa superar esse ceticismo para que suas palavras na Assembleia-Geral da ONU não se somem à longa lista de baboseiras bem intencionadas sobre o Oriente Médio. Essas palavras foram: "Quando voltarmos aqui ano que vem, poderemos ter um acordo que trará um novo membro para as Nações Unidas - um Estado soberano palestino." No ano que vem! Os EUA - juntos com Rússia, União Europeia e ONU - também endossaram um relatório do Banco Mundial dizendo: "Se a Autoridade Palestina mantiver o desempenho atual em construção de instituições e fornecimento de serviços públicos, estará bem posicionada para o estabelecimento de um Estado em algum momento do futuro próximo". Algum momento do futuro próximo! Mas as negociações estão emperradas. Talvez as eleições legislativas americanas ofereçam a oportunidade para Obama pensar. As disputas sobre um possível prolongamento da moratória de Israel na construção de assentamentos foram uma humilhação americana. Obama precisa olhar além e perguntar a Netanyahu: "Diga-me, se todas as preocupações de segurança forem atendidas, todas elas, qual é a fronteira que deseja para Israel?" Os acordos de Camp David de 1978 com o Egito giraram em torno de o então líder israelense, Menachem Begin, deixar claro que estava disposto a sair do Sinai - nos termos certos. Agora, porém, como uma autoridade israelense me confiou, "não definimos, por razões psicológicas e políticas definidas, nossa posição corrente sobre terra por paz." Netanyahu vai tergiversar. Dirá que ala a direita de sua coalizão romperia sobre o ponto da explicitação das fronteiras. Dirá que precisa de garantias de segurança antes de falar de fronteiras. Mas, sem uma resposta, os esforços de paz de Obama estão condenados.A única flexibilidade palestina possível sobre a moratória de assentamentos está em garantias americanas de que a questão das fronteiras será abordada de imediato - quando elas ficarem em foco, não importará se Israel constrói dentro delas. Assim, Obama precisa decidir como obter sua resposta. Pode dizer, "ao diabo com sua coalizão, Bibi, traga o Kadima"; pode ponderar como ele próprio pode tranquilizar israelenses sobre a segurança: dois discursos ao mundo muçulmano poderiam ser completados com um em Israel. Ele pode levar a secretária de Estado Hillary Clinton ao processo: suas convicções sobre um Estado palestino cresceram e ela tranquiliza judeus (como seu marido fazia). Mas tudo isso pode não bastar.Não acredito que Israel já tenha chegado à conclusão do restante do mundo: a inevitabilidade de um Estado palestino. Não acredito que a ilusão de Judeia e Samaria - toda a terra - tenha morrido completamente em Netanyahu.Então, qual é a influência que Obama pode exercer? Uma obsessão israelense talvez ofereça uma pista: sua insistência para os EUA não se comprometerem ano que vem com nenhuma resolução da ONU hostil a Israel. Israelenses temem que Obama - na falta de uma séria cooperação de Bibi com o prazo de 2011 - diga ao primeiro-ministro: "Nesse caso, não tenho escolha senão concordar com Medvedev, Sarkozy, Cameron e Hu de que iremos ao Conselho de Segurança para tentar aprovar uma resolução estabelecendo um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967, e sugerir que todos os Estados o reconheçam." Esse temor israelense é uma alavancagem e tanto. Israel precisa entender que a hora H chegou. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIKÉ COLUNISTA DO "NEW YORK TIMES"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.