BELO HORIZONTE - Os imigrantes brasileiros deportados dos Estados Unidos para o País neste sábado, 25, descreveram cenas de violência e maus-tratos durante o voo que chegou a Manaus (AM) na noite de sexta, 24. A aeronave estava sob a guarda do governo americano e parou na capital do Amazonas porque teve problemas técnicos. De lá, os imigrantes brasileiros seguiram em voo da FAB até Belo Horizonte, onde aterrissaram por volta de 22h.
A reportagem procurou a embaixada dos Estados Unidos em Brasília e o consultado em São Paulo, mas não conseguiu contato.
Um dos deportados, Luis Fernando Costa afirma que os guardas americanos agrediram brasileiros algemados.
“Eu não fui agredido, mas os meninos foram agredidos, sim, dentro da aeronave”, disse. “Os meninos estavam algemados e os caras meteram o porrete neles sem dó”.
Segundo ele, o tratamento aos imigrantes foi desumano. Eles viajaram durante todo o tempo algemados e não eram liberados nem para ir ao banheiro. O ar-condicionado não funcionou e apenas um salgadinho foi oferecido como comida, apesar do voo de longa distância.

Os imigrantes relatam que quando chegaram em Manaus, uma das turbinas não funcionava, o que gerou pânico nos brasileiros, que tentaram sair da aeronave. Os guardas responderam com agressões físicas, usando correntes.
“Agrediram com chute, jogaram os moleques no chão. Teve um menino que o cara deu um mata-leão até ele desmaiar e jogou ele no chão, soltou ele no chão”, disse Costa.
Ele foi preso há cerca de 40 dias, quando ia para o trabalho. Segundo ele, a polícia americana está abordando pessoas nas ruas para checar se estão com o visto de residência.
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“Agora a polícia para e te checa. Se você não tem visto para morar… Eu estava indo trabalhar, estava com essa roupa, eu estava indo trabalhar”, disse ele, que morava há um ano e meio nos Estados Unidos e deixou a família no interior de Minas para juntar dinheiro.
Os imigrantes brasileiros relatam que a aeronave partiu dos Estados Unidos já apresentando problemas técnicos e, na primeira parada, no Panamá, teve dificuldades em ser religada. O ar-condicionado não funcionava, o que fez com que passageiros, entre eles crianças, passassem mal com falta de ar.
Vitor Gustavo da Silva disse que foi agredido fisicamente pelos guardas e que estava muito quente dentro da aeronave.
“Eles maltrataram a gente, deixaram a gente algemado a viagem inteira. Estava muito calor, tinha crianças, mulheres no avião, e estávamos com calor. Eles bateram na gente algemado, era muito feio”, disse.
“Meninos de 18 anos,19 anos, 21 anos bateram neles. Eu apanhei também. Ficou muito calor e as pessoas não tinham paciência, todo mundo ficou brabo, eles queriam sair do avião e eles não deixaram. Eles maltrataram a gente”, disse Silva.
Ele estava morando há 21 anos nos Estados e foi detido há cerca de seis meses na Louisiana. Ele morava em Atlanta, no estado da Geórgia.
Eles maltrataram a gente, deixaram a gente algemado a viagem inteira. Estava muito calor, tinha crianças, mulheres no avião, e estávamos com calor. Eles bateram na gente algemado, era muito feio
Vitor Gustavo da Silva, brasileiro deportado
Pouco antes de chegar em Manaus, os imigrantes relatam que a turbina do lado esquerdo da aeronave parou de funcionar. As queixas, no entanto, foram ignoradas pelos guardas americanos.
Outro imigrante deportado, Denilson José de Oliveira afirma que os brasileiros se mobilizaram então para evitar que a aeronave voltasse a voar.
“Em Manaus o avião estava dando problema, nós percebemos que estava dando problema, todo mundo ficou nervoso. Quando desligou em Manaus, o avião não ligava mais. Pedimos para tirar as algemas, que a gente não ia mais viajar naquele avião. Dissemos para chamar a Polícia Federal, que estávamos em nosso país. E lá a gente foi agredido”, disse.
“Nós pensamos ‘eles vão matar nós, vão decolar esse avião, e vai dar pane nesse avião e nós vamos morrer’. Aí foi quando o rapaz falou vamos ficar em pé no corredor e aí foi quando eles começaram a agredir a gente”.
Segundo Oliveira, um funcionário do aeroporto que estava na pista percebeu o que ocorria dentro da aeronave.
“Nós mostramos as algemas e gritamos que éramos brasileiros. Conseguimos abrir uma porta de emergência e eu consegui sair e pedir socorro”, conta.
Neste momento, diz ele, os guardas americanos puxavam as correntes e agrediram os brasileiros com correntadas e cabeçadas.
“Ele aproveitavam que estávamos algemados e davam cabeçada, pegaram as correntes e puxaram, deram correntada. Um menino ficou com uma marca nas costas”, afirma.
O goiano Kaleb Barbosa Maia disse que os brasileiros foram humilhados pela imigração americana.
“Foi uma viagem muito difícil, fomos muito humilhados pela imigração americana. Trataram a gente muito mal, quebrou o ar-condicionado e o avião estava em péssimas condições”, relata. “Tomamos uma atitude drástica e abrimos as portas de emergência e pedimos socorro quando pousou em Manaus”.
Ele descreve o momento como desesperador.
“O ar-condicionado estragou em pleno ar, pessoas começaram a passar mal, pessoas com diabetes ficaram emocionadas, desmaiaram. Crianças choraram com falta de ar e a turbina falhando, foram condições precárias. Foi um momento desesperador”, disse.
“Estava saindo fumaça da turbina e eles insistindo em viajar. Eu creio que se tivessemos seguido no avião todos teríamos morrido”, afirma o goiano, que também disse ter sido agredido, mostrando marcas no pescoço.
Itamaraty vai exigir explicações
O Itamaraty informou, no fim da noite de sábado, que pedirá explicações ao governo norte-americano sobre o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo.
O chanceler, Mauro Vieira, foi a Manaus acompanhar o caso, onde se reuniu com representantes da Polícia Federal e da Força Aérea brasileira.
Segundo o Itamaraty, foi feito um relato detalhado sobre os incidentes no aeroporto, que subdiará o pedido de explicações do Brasil.