Colômbia escolhe presidente entre esquerdista e populista de direita em eleições apertadas

Os candidatos Gustavo Petro e Rodolfo Hernandez estão tecnicamente empatados nas pesquisas de intenção de votos

PUBLICIDADE

Foto do author Fernanda Simas
Por Fernanda Simas
Atualização:

ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ - A Colômbia elege neste domingo, 19, seu novo presidente entre os candidatos Gustavo Petro e Rodolfo Hernández. A votação já começou no país e ocorrerá até as 16 horas (horário local, 18h de Brasília). Os colombianos escolhem entre um ex-guerrilheiro de esquerda que está propondo mudanças sociais profundas e um excêntrico magnata da construção que promete combater a corrupção.

PUBLICIDADE

Logo as 8 horas locais, o presidente Iván Duque votou na sede da presidência e afirmou que estava cumprindo com o dever da democracia no país. “Viva a democracia.” Duque, que é impedido por lei de concorrer à reeleição, votou na central Plaza de Bolívar, em Bogotá.

O candidato Hernández, que havia divulgado que votaria por volta de 13 horas em Bucaramanga, surpreendeu e votou pela manhã. Cercado pela imprensa e muito aplaudido, o candidato deixou seu colégio eleitoral sem dar declarações à imprensa.

Hernández, que denunciou um plano para assassiná-lo após o primeiro turno, votou com a proteção de várias escoltas na cidade de Bucaramanga, da qual foi prefeito.

Cerca de 39 milhões de colombianos podem votar neste domingo Foto: Fernanda Simas/Estadão

Petro chegou as 10h30 ao colégio Marco Antonio Carreño Silva, em Bogotá. Do lado de fora do local da votação, partidários de Petro cantavam e usavam máscaras esperando que ele chegasse. “Se vive, se sente, Petro presidente”, cantavam.

Assim que entrou, Petro pediu que os colombianos saíssem para votar. “A fraude se vence saindo para votar de forma massiva.” Em seguida, o candidato votou ao lado da família.

As ruas da capital colombiana receberam um reforço na segurança e integrantes do exército e da polícia nacional estão posicionados em diferentes bairros.

Publicidade

Cerca de 39 milhões de colombianos são chamados voluntariamente às urnas. Pouco menos de 55% deles compareceram à primeira rodada - que, assim como a segunda, acontece em um fim de semana de feriado.

Até uma semana atrás, as pesquisas mostravam um empate técnico, então um resultado muito acirrado poderia alimentar suspeitas de fraude - que Petro tem denunciado insistentemente - e desencadear protestos.

“Os números que nos colocam muito perto do outro candidato. A única coisa que nos falta enfrentar é a fraude”, lançou Petro no Twitter no início do dia.

O escrivão nacional, Alexandre Vega, defendeu a tarefa da autoridade eleitoral que chefia: “Apesar da desinformação, o processo eleitoral continua firme e forte”, disse em discurso público com Duque.

O senador e ex-guerrilheiro Petro, de 62 anos, venceu o primeiro turno com 40% dos votos contra 28% de Hernández (77), mas sua vantagem foi quebrada após o jogo de alianças e uma campanha bastante agressiva, com vazamentos e golpes baixos dos dois lados.

Petro, o ex-guerrilheiro

Os eleitores puniram as forças que historicamente governaram e escolherão entre duas alternativas incertas que despertam medo em diferentes setores.

Petro, ex-prefeito da capital Bogotá e atual senador, prometeu combater a desigualdade com educação universitária gratuita, reformas previdenciárias e altos impostos sobre terras improdutivas.

Publicidade

Suas propostas - especialmente a proibição de novos projetos de petróleo - surpreenderam alguns investidores, embora ele tenha prometido respeitar os contratos atuais.

“Estamos a um passo de alcançar a mudança real que esperamos por todas as nossas vidas”, escreveu Petro no Twitter. “Não há dúvidas, apenas certezas. Vamos fazer história.”

Petro, que está fazendo sua terceira candidatura presidencial, seria o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, acrescentando a nação andina a uma lista de países latino-americanos que elegeram progressistas nos últimos anos.

Petro disse que foi torturado pelos militares quando foi detido por seu envolvimento com a guerrilha e sua potencial vitória fez com que oficiais de alto escalão das Forças Armadas se preparassem para mudanças.

“Hoje estou votando na minha filha - ela completou 15 anos há duas semanas e pediu apenas um presente: que eu vote no Petro”, disse o segurança Pedro Vargas, 48, no sudoeste de Bogotá. “Espero que este homem cumpra as esperanças da minha filha, ela tem muita fé nas promessas dele”, acrescentou Vargas, que disse que nunca vota.

Alguns eleitores em Bogotá relataram longas filas nos locais de votação.

Hernández, o anticorrupção

Hernández, que foi prefeito de Bucaramanga, foi um candidato surpresa no segundo turno e prometeu encolher o governo e financiar programas sociais por meio do combate à corrupção. Ele também se comprometeu a fornecer narcóticos gratuitos para viciados em um esforço para combater o tráfico de drogas.

Publicidade

Apesar de sua retórica anticorrupção, Hernández está sob investigação de corrupção por alegações de que ele interveio em uma licitação de gerenciamento de lixo para beneficiar uma empresa para a qual seu filho fazia lobby. Ele negou irregularidades.

Hernández - como Petro - prometeu implementar integralmente um acordo de paz de 2016 com os rebeldes das Farc e buscar conversas com os ainda ativos guerrilheiros do ELN, apesar de acusar o grupo de sequestrar e assassinar sua filha Juliana em 2004. O ELN negou qualquer envolvimento e seu corpo nunca foi encontrado.

“A eleição é simples. Vote em alguém que é controlado pelas mesmas pessoas de sempre ou vote em mim, que não é controlado por ninguém”, disse o homem de 77 anos, que evitou a campanha tradicional em favor de postagens caprichosas vídeos de mídia social.

Jose Mesa, 43, agricultor de Bucaramanga, disse que nunca havia votado antes, mas estava apoiando Hernández. “Ele tem os valores que este país precisa”, disse Mesa. “Gostamos que ele diga as coisas diretamente.”

Hernández prometeu respeitar os resultados, enquanto Petro levantou dúvidas sobre a integridade dos funcionários eleitorais. Ambos os homens cancelaram eventos de campanha por causa do que disseram ser ameaças às suas vidas.

Quem vencer, a Colômbia empossará sua primeira vice-presidente negra em agosto - a companheira de chapa de Petro, Francia Marquez, e a segunda em comando de Hernández, Marelen Castillo, são ambas afro-colombianas.

A polícia colombiana disse nesta semana que está em alerta máximo após detectar planos de grupos radicais para cometer atos de violência relacionados à votação./AFP e REUTERS

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.