Comissão da ONU investigará crimes em Ghouta Oriental, na Síria

Resolução aprovada no Conselho de Direitos Humanos da organização conferiu mandato à Comissão de Inquérito, presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, para analisar os crimes cometidos no mais recente capítulo da guerra civil síria

PUBLICIDADE

Por Jamil Chade, Correspondente e Genebra

GENEBRA - Resolução aprovada nesta segunda-feira, 5, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas conferiu mandato à Comissão de Inquérito da organização, presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, a tarefa de lançar investigações "urgentes" sobre os crimes cometidos em Ghouta Oriental, na Síria.

Primeiro comboio de ajuda humanitária chega a Ghouta Oriental

Desde meados de fevereiro, mais de 700 pessoas já morreram nesta região na proximidade de Damasco que conta com uma população de 400 mil pessoas. Os ataques também deixaram mais de 5,6 mil feridos.

Soldados russos, aliados de Bashar Assad, observam caminhões com ajuda humanitária do Crescente Vermelho nos arredores de Damasco Foto: AFP PHOTO / LOUAI BESHARA

PUBLICIDADE

Para que fosse aprovada, porém, a resolução original proposta pelo Reino Unido teve de ser modificada. No texto inicial, o governo de Bashar Assad era acusado pelos ataques, o que foi considerado como "parcial" por diversos países. A opção foi a de modificar a resolução para também responsabilizar grupos armados pelos crimes.

Pinheiro, portanto, terá de fazer uma investigação "completa e independente" sobre os acontecimentos mais recentes na Síria. Desde 2012, o brasileiro lidera o grupo que conduz exames sobre a situação no país em guerra e já documentou milhares de páginas sobre os envolvidos no confronto.

Bombardeios em Ghouta Oriental matam 500 civis em uma semana

Apesar da aprovação, o texto foi alvo de duras críticas por parte da Rússia, que tentou minar OA iniciativa apresentando emendas. Para o governo americano, as emendas russas pretendiam "distrair o Conselho da ONU da situação horrível vivida em Ghouta Oriental".

No domingo, o presidente americano, Donald Trump, manteve conversas telefônicas com a premiê britânica, Theresa May, e chegou a conclusão de que cabe aos russos impedir que os ataques continuem. 

Publicidade

Moscou, que apoia militarmente o governo de Assad, acabou vendo suas propostas serem recusadas pelos demais membros do Conselho da ONU e partiu para ataques verbais contra as demais delegações. "O clima está saturado de mentiras", atacou a delegação de Moscou em Genebra. 

Em sua versão final, 4 dos 47 países do órgão da ONU votaram contra a investigação, entre eles Venezuela, China, Burundi e Cuba. O Brasil votou a favor do texto.

França e EUA dizem que não tolerarão impunidade com uso de armas químicas na Síria

O embaixador da Síria na ONU, Hussam Edin Aala, alertou que a resolução não tinha "qualquer relação com a proteção aos direitos humanos" e demonstrava a "falta de objetividade do Conselho de Direitos Humanos da ONU". 

Publicidade

Ajuda

O texto também pede que o governo e partes envolvidas no conflito deem passagem à ajuda humanitária para a região afetada. Ele foi aprovado no mesmo dia em que um primeiro comboio com alimentos e remédios foi autorizado a entrar na região.

O material seria suficiente para atender a 27,5 mil pessoas, numa operação organizada pela ONU, pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) e pelo Crescente Vermelho sírio.

A OMS, porém, informou que o governo sírio removeu dos comboios cerca de 70% do material para cirurgias, antes da partida dos caminhões para as cidades afetadas. O objetivo era impedir que rebeldes pudessem ser tratados. 

A região estava sob o controle de forças jihadistas e rebeldes desde 2012. Mas, em poucos dias, o governo e seus aliados militares retomaram o controle sobre um terço do enclave rebelde. No Ocidente, porém, o temor é de que essa ofensiva tenha ignorado qualquer tipo de preocupação com os civis vivendo na região.  No domingo, Assad, disse que a ofensiva "contra os terroristas" continuaria.