SÃO PAULO - O conflito entre opositores e o regime de Bashar Assad não tem provocado divisões apenas na Síria. A numerosa comunidade de sírios-brasileiros também está dividida, entre o apoio e a rejeição ao regime. Segundo membros da comunidade ouvida pela BBC Brasil a maior parte prefere o silêncio. Outros, pelo contrário, optaram pela militância, organizando protestos contra o regime, em frente ao consulado sírio na avenida Paulista, em São Paulo.
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A oposição a Assad é mais disseminada entre os sírios que chegaram ao país nas últimas décadas. Um dos líderes é Ehad Tariri. Há 14 anos no Brasil, o empresário trocou Damasco por São Paulo. "Quem vive no Brasil sentiu o que é liberdade, sentiu o que é democracia", diz Tariri. Ele calcula que cerca de 40% da comunidade hoje está contra Assad, mas qualquer número é apenas uma suposição. "Ninguém está pedindo liberdade demais. Nós queremos pelo menos é respirar", diz o também empresário Mohamed Elatar, que chegou ao país há dez anos para viver com o tio. "Temos uma preocupação muito grande com os parentes na Síria, já que a comunicação é dificil", diz. Segundo a ONU, mais de 5 mil pessoas já morreram na repressão do regime sírio aos protestos contra o governo, iniciados em março de 2011, num dos capítulos mais sangrentos da chamada Primavera Árabe. Homs O principal reduto dos oposicionistas na Síria é a cidade de Homs, origem de boa parte dos sírios-brasileiros e nome de um tradicional clube em São Paulo. Mas no Club Homs, a duas quadras do consulado sírio, grande parte dos associados é a favor de Assad, garante o advogado Eduardo Elias, neto de sírios e presidente doaFederação das Entidades Árabes do Brasil, Fearab. Elias diz que o grande temor dos sírios-brasileiros de origem cristã é que se reproduza, com a eventual queda de Assad, a perseguição aos cristãos ocorrida durante o Império Otomano. Foi essa a razão que fez o seu avô e milhares de outros sírios migrarem para o Brasil no fim do século 19 e início do século 20. "Existem facções radicais que querem a todo custo limpar religiosamente a Síria", diz Elias. A influência dos sírios-libaneses, a maioria de origem cristã, pode ser vista em sobrenomes ilustres como Alckmin, Kassab, Haddad, Suplicy e Maluf. Elias defende a posição de Assad e diz que os protestos são parte de um complô estrangeiro para desestabilizar o país. "O Hafez (Assad, pai de Bashar) fez uma coisa muito inteligente. Ele retirou a religião da carteira de identidade", diz o advogado, ressaltando que os cristão veem na família Assad uma garantia de proteção à minoria cristã. Brasil Para o jornalista sírio Tammam Daaboul, 31 anos, há 18 vivendo em São Paulo, "a maior parte da comunidade síria não mantém vínculos diretos com o país e não tem informação suficiente para se posicionar politicamente". Daaboul nega que exista uma perseguição religiosa do governo, já que há uma tradição de convivência pacífica entre a maioria muçulmana sunita com as minorias alauitas e cristã. "Um conflito sectário na Síria só ocorreria se fosse incentivado. E o medo é o principal catalisador para isso", diz. Daaboul também cobra um posicionamento mais ativo da diplomacia brasileira. Segundo ele, o Brasil é respeitado tanto pela oposição quanto pelo governo sírio e poderia ajudar em uma solução política para o conflito. "O Brasil poderia, através dos Brics, principalmente com a Rússia e a China, criar um protocolo de trabalho" para negociações entre os dois lados. "Os Brics têm condição de ditar o caminhar da crise. Têm recursos e mais força política do que a própria Liga Árabe", diz.
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