A embaixada do Brasil no Panamá informou nesta sexta-feira, 17, que as seis crianças brasileiras que estavam no ônibus que se acidentou no país na madrugada de quarta-feira, 15, são de Santa Catarina e, possivelmente, filhas de haitianos. Quatro delas estão internadas com quadro estável e duas ainda não foram identificadas.
Ao menos 41 pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas depois que um ônibus que transportava imigrantes com destino aos Estados Unidos caiu em um barranco em Gualaca, na província de Chiriquí, que fica a 400 km a oeste da Cidade do Panamá, na fronteira com a Costa Rica.
O Ministério das Relações Exteriores do Panamá informou à embaixada brasileira no país sobre a presença das crianças brasileiras no veículo já na manhã de quarta. “A Embaixada confirmou, com base na documentação disponível, a cidadania brasileira das mencionadas crianças”, afirmou por meio de nota enviada ao Estadão. “São todos naturais de Santa Catarina, com idade entre seis meses e sete anos. Ao que tudo indica, são filhos de haitianos.”

O diretor do Hospital Materno-Infantil José Domingo de Obaldía, em Chiriquí, havia informado sobre a entrada de dez crianças sobreviventes do acidente, sendo cinco meninas e cinco meninos, com idade entre dois e 14 anos, das quais duas estão em estado crítico e uma evoluiu para o óbito, completa a nota.
De acordo com a embaixada, quatro das dez crianças internadas são brasileiras e estão em condição de saúde estável. “Duas crianças brasileiras ainda não foram identificadas”, acrescenta.
Segundo o governo panamenho, o ônibus contava com 66 passageiros no momento do acidente, sendo 22 equatorianos, 16 haitianos, 11 venezuelanos, seis brasileiros, cinco colombianos, dois cubanos, dois camaronenses, um eritreu e um nigeriano. O relatório do governo também ponta que 42 dos passageiros eram homens e 24 eram mulheres. Entre eles, havia 20 menores.
Além dos 66 migrantes, viajavam no ônibus dois panamenhos: o motorista, que morreu na hora, e um ajudante que está ferido. Entre os feridos, há outros dois panamenhos que estavam em outro veículo estacionado que foi atingido pelo ônibus quando este caiu do barranco.
Migração pelo estreito de Darién
Identificação das vítimas
O presidente da Associação de Estrangeiros e Naturalizados Residentes da Panamá, Rafael Rodríguez, disse à agência EFE que estava preocupado com o fato de que depois de 24 horas do acidente o nome e a nacionalidade dos passageiros ainda eram desconhecidos. Ele também criticou que o Serviço Nacional de Migração do Panamá por não confirmar nem desmentir as informações dos governos de Cuba, Colômbia e Equador de que há cidadãos desses países entre os mortos e feridos.
O Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses disse que vai exigir informações dos países de origem dos migrantes para obter suas impressões digitais ou registros dentários, bem como amostras de parentes para realizar comparações genéticas para a identificação dos corpos.
“Esse processo vai levar tempo. Enquanto isso, os cadáveres serão preservados com a devida dignidade estabelecida pelos padrões internacionais”, afirmou o Instituto em comunicado.
A presidência do Panamá acrescentou que não foi possível ainda verificar a identidade de todos os sobreviventes porque alguns - oito no total - ainda estão inconscientes em hospitais e perderam seus documentos de identidade que ficaram espalhados no local.

Rota migratória
Os migrantes estavam viajando rumo aos Estados Unidos depois de terem cruzado a inóspita selva de Darién, um estreito de mata fechada que separa a Colômbia do Panamá. Desde o início de 2022, depois que o governo americano tornou mais rigorosas as suas regras de entrada, milhares de migrantes passaram a viajar a pé pelo Estreito de Darién, causando uma crise humanitária na fronteira panamenha.
Em 2022, 248.000 pessoas entraram no Panamá pelo Estreito de Darién, muito acima dos 133 mil do ano anterior. A fronteira natural de 266 km de extensão e 575.000 hectares é uma rota repleta de perigos, como animais selvagens, rios caudalosos e grupos criminosos. Venezuelanos e equatorianos fugindo de crises econômicas e de segurança são as principais nacionalidades na rota.

Em seus registros oficiais de imigrantes irregulares que cruzam o Estreito de Darién, o governo do Panamá ressalta que a maioria dos brasileiros que utilizam a rota são filhos de migrantes de outras nacionalidades - geralmente do Haiti - que nasceram no Brasil.
Após o acidente, o ministro da Segurança, Juan Manuel Pino, informou que 37.000 pessoas entraram no país este ano pelo Darién.
Este foi o pior acidente rodoviário desde que o país centro-americano autorizou a transferência de ônibus de migrantes que cruzavam Darién para um acampamento na fronteira com a Costa Rica. O ônibus era um dos autorizados pelas autoridades a transportar diariamente os migrantes ao abrigo Los Planes, de onde continuam sua rota para o norte através da fronteira com a Costa Rica. Os migrantes pagam uma passagem de transferência nesses ônibus de aproximadamente 40 dólares.
Em meados do ano passado, alguns ônibus com migrantes foram danificados ao serem atacados por pessoas que bloqueavam a rodovia internacional Pan-Americana durante protestos antigovernamentais, sem registro de feridos.
Até agora, os relatos de migrantes que morreram em trânsito pelo Panamá se referiam a ocorrências ao transitar a pé ou em barcos pela selva e rios de Darién.
O Ministério Público do Panamá continua coletando provas como parte de uma investigação de crime contra a vida e a integridade pessoal, disse à EFE uma fonte da instituição./Com informações de AFP, EFE e AP