CAIROMohamad Mansour vive em um bairro na periferia do Cairo. Não tem internet e nem sabe o que é Facebook. Nunca viajou para fora do Egito e não fala qualquer outra língua que não seja o árabe. Nos últimos dias, transformou-se em um dos chefes da milícia de sua rua e garantiu ao Estado que daria sua vida pelo presidente Hosni Mubarak. "Ele nos deu paz e é um herói. Porque é que temos de expulsar nosso líder do poder ?", questionou. "Temos que lutar e dar nossa vida por ele. Mubarak já fez isso por nós. Agora é nossa vez", disse. Com 37 anos e 4 filhos, Mansour jurou que não recebeu nenhum dinheiro para marchar até o centro do Cairo para protestar contra a oposição ao presidente. Mas admitiu conhecer vários colegas que receberam "uma pequena ajuda" para compensar pelo dia de trabalho perdido na Praça Tahrir. Ele também admitiu que um caminhão foi buscá-lo para os protestos na quarta-feira, assim como seus amigos. Questionado se havia sido o governo ou a polícia secreta quem mandou o transporte, Mansour afirmou não saber. "Acho que o caminhão era de alguém que gosta de Mubarak", explicou. Mansour contou que, ao chegar na Praça Tahrir, participou do ataque aos manifestantes da oposição. "A praça não era deles!", alegou. O militante não respondeu quem ordenou a incursão. "No caminho nos disseram que tínhamos de ser duros e reconquistar a praça." Trabalhando como eletricista, Mansour disse ter estudado até o equivalente ao Ensino Médio no Brasil. E não culpa Mubarak pelos problemas na economia egípcia ou pelo fato de seu salário não chegar a US$ 200 ao mês. "Mubarak garante que os preços dos alimentos não subam. Ele é bom para nós", disse. "Sempre digo aos meus filhos que temos de seguir o exemplo do presidente. Ele nos ama e sempre diz que está ao nosso lado", afirmou. Questionado se não tinha vontade de eleger democraticamente o presidente, Mansour não soube responder. "Acho que não. Sabemos que Mubarak quer o melhor para nós."