A Mesa de Reflexão Latino-americana, um grupo que reúne diplomatas, políticos e intelectuais da região, emitiu uma declaração na sexta-feira, 17, contra a fala de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, de tomar o controle do Canal do Panamá. O grupo se posicionou em “defesa da soberania” panamenha e fez “um apelo ao respeito pelas normas e pelos princípios éticos do sistema internacional”.
O documento reuniu o apoio de 235 nomes - de integrantes da mesa e personalidades que aderiram ao manifesto. Pelo Brasil, assinaram, por exemplo, Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores, Sergio Fausto, diretor-geral da Fundação FHC, Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda, entre outros.
No início do mês, o presidente eleito dos EUA ressaltou o interesse em tomar o controle da Groenlândia e do Canal do Panamá. Trump subiu o tom e não descartou o uso militar para tornar seu desejo uma realidade.

“A base fundamental da convivência americana tem sido, é e deve ser o respeito aos Tratados e ao Direito Internacional. Foi no âmbito da Organização dos Estados Americanos que tanto o Panamá quanto os Estados Unidos decidiram resolver as diferenças históricas sobre o canal do Panamá, por meio de negociações pacíficas”, afirmou o grupo em comunicado.
O controle do Canal do Panamá foi abdicado décadas atrás, durante a gestão de Jimmy Carter. Em dezembro, Trump acusou falsamente o Panamá de permitir que soldados chineses controlassem a rota de navegação, que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico, e de cobrar a mais dos navios americanos. O republicano disse que se os preços não forem reduzidos, ele poderá tomar o canal “rapidamente e sem questionamentos”.
No texto, a mesa destacou que o Panamá demonstrou “absoluta capacidade na gestão do canal” e que, desde que o país assumiu a administração do canal, atuou com “responsabilidade em relação ao comércio mundial” com a “construção de um terceiro conjunto de eclusas” para permitir o trânsito de navios maiores.
A declaração também apontou que o “Panamá manteve um canal seguro, eficiente e aberto a todas as nações do mundo com absoluta igualdade e sem discriminação alguma, nem reclamações por parte dos usuários”.
“As declarações do presidente eleito dos Estados Unidos ignoram esta realidade histórica e distorcem o que foi alcançado com os tratados que o seu próprio país assinou e respeitou até agora. Seria impensável e inaceitável que a ameaça e a coerção pudessem se tornar novos instrumentos da política externa dos Estados Unidos em relação à América Latina e ao Caribe”, afirmou o texto da mesa.
“A paz, a segurança e a convivência no continente americano repousam no diálogo, na cooperação, no entendimento e no respeito ao direito internacional”, conclui o grupo.