Em entrevista, papa Francisco conta que pediu para se reunir com Putin, mas não recebeu resposta

Declaração foi feita durante conversa para o jornal ‘Corriere Della Sera’

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Por Redação
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Roma - O papa Francisco revelou que tentou viajar a Moscou para se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin para pedir que pare a guerra na Ucrânia. No entanto, ainda não recebeu resposta. A entrevista foi publicada nesta terça-feira, 3, pelo jornal Corriere Della Sera.

O papa explicou que, embora tenha conversado com o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, ainda não falou com Putin, de quem recebeu um telefonema em dezembro para comemorar seu aniversário e que depois de 20 dias de guerra pediu ao Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, que enviará ao presidente russo a mensagem de que estava pronto para ir a Moscou.

Papa Francisco pede paz durante missa na Basílica de São Pedro. Foto: GIUSEPPE LAMI

“É claro que era necessário que o líder do Kremlin permitisse algumas janelas. Ainda não recebemos uma resposta e continuamos insistindo, embora receie que Putin não possa e não queira ter esta reunião agora”, explicou o pontífice.

Enquanto no momento ele enfatizou que não irá para a Ucrânia. que eu não tenho que ir. Primeiro tenho que ir a Moscou, primeiro tenho que encontrar com Putin. Mas eu sou um padre, o que posso fazer? Fazer o que eu posso. Se Putin abrisse a porta...”, enfatizou.

Segundo o Corriere della Sera, a preocupação do papa Francisco é que Putin, por enquanto, não vai parar. Quanto ao papel da Otan neste conflito, o papa afirmou que não sabe se a “raiva” de Putin foi provocada pela presença da Aliança Atlântica às portas da Rússia, mas acredita que “sim, facilitado”.

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Sobre se é lícito que os países enviem armas para Ucrânia para se defender da invasão, papa diz não ser capaz de responder e acrescentou: “Estou muito longe da pergunta se é correto fornecer os ucranianos. O que está claro é que as armas estão sendo testadas naquela terra. Os russos agora sabem que os tanques são de pouca utilidade e estão pensando em outras. As guerras são travadas para isso: para testar as armas que nós produzimos”.

“O comércio de armas é um escândalo, poucos se opõem a ele. Há dois anos ou três anos um navio chegou a Gênova carregado com armas que tiveram que ser transferidas para um grande cargueiro para transportá-los para o Iêmen. Os trabalhadores portuários não quiseram fazê-lo. Eles disseram: vamos pensar nas crianças iemenitas. É uma coisa pequena, mas um gesto bonito. Deve haver tantos assim”, acrescentou.

O pontífice negou que o chefe da Igreja Ortodoxa Russa, o Patriarca Kirill, pode colaborar para deter Putin porque na conversa por videoconferência que tiveram, “os primeiros vinte minutos ele me deu todas as justificativas para a guerra”.

“Eu tinha uma reunião marcada com ele em Jerusalém em 14 de junho. Seria nosso segundo cara a cara, nada a ver com a guerra. Mas agora ele também concorda que o encontro pode ser um sinal ambíguo”, explicou.

Ele também revelou que em seu recente encontro com o presidente húngaro, Victor Orban, assegurou-lhe que os russos “têm um plano e que em 9 de maio tudo terminará”.

“Espero que sim, para que também entendamos a velocidade da escalada nos dias de hoje. Porque agora não é só o Donbas, é Crimeia, é Odessa, está tirando o acesso ao Mar Negro de Ucrânia, só isso. Estou pessimista, mas temos de fazer todo o possíveis gestos para parar a guerra”, enfatizou. /EFE

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