O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que tinha até agora praticamente lavado as mãos diante do alarmante conflito entre israelenses e palestinos, anunciou nesta quarta-feira que despachará o enviado especial à região, Anthony Zinni, neste fim de semana, para tentar negociar um cessar-fogo. Um ex-general do corpo de fuzileiros navais (marines), Zinni fracassou em duas tentativas anteriores. A nova missão de Zinni foi decidida às pressas. Pela manhã, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, indicou o desejo de Bush de mandar o embaixador especial de volta à região. Mas ele afirmou que isso dependia "de uma mudança no ambiente", ou seja, de uma suspensão das hostilidades. A decisão de mandar Zinni de qualquer maneira veio ao final de um dia de intenso debate interno da crise no Oriente Médio. Entre os cálculos está o desejo de preservar ao máximo o objetivo da agenda da visita que o vice-presidente Dick Cheney inicia neste fim de semana à região: a ampliação da guerra contra o terrorismo sob a forma de uma operação de derrubada do regime de Saddam Hussein no Iraque. Obviamente, este não é considerado o problema mais premente da região pelos vizinhos árabes de Israel. Eles estão mais interessados na atitude dos EUA sobre a proposta de paz que a Árabia Saudita apresentou há duas semanas para o conflito Israel-palestinos, como deixou claro o presidente do Egito Hosni Mubarak, em visita que fez a Bush esta semana. O envio de Zinni sugere que Bush compreendeu as consequências do agravamento do conflito para sua capacidade de liderança internacional. Tendo assumido uma atitude de passividade e não-envolvimento, combinada com a condenação explícita da falta de ação do líder palestino Yasser Arafat contra os atentados a Israel e o apoio tácito à escalada das represálias militares ordenada por Sharon, a administração norte-americana é agora forçada a constatar que sua postura produziu o resultado oposto ao pretendido. Ocorre que qualquer tema relacionado com Israel e os palestinos gera divisões internas no governo norte-americano. Elas ficaram evidentes hoje, algumas horas antes do anúncio do retorno de Zinni à zona em conflito. Sem respaldo público de Bush às críticas que fizera na véspera à estratégia do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, de usar doses crescentes de força militar para responder aos ataques palestinos contra alvos israelenses, o secretário de Estado Colin Powell deu hoje um passo atrás. O secretário de Estado, que na quarta-feira dissera a uma sub-comissão da Câmara de Representantes que "declarar guerra contra os palestinos e tentar resolver o problema vendo quantos palestinos você consegue matar não nos levará a parte alguma", voltou hoje ao Congresso para afirmar que o primeiro-ministro de Israel estava sendo "razoável" no desejo de tentar reduzir a violência. Respondendo a uma pergunta de um deputado, Powell afirmou que os israelenses confrontam-se com uma situação de legítima auto-defesa . Mas acrescentou que eles "precisam ser muito cuidadosos com os meios que usam para defender seu povo". "Não vejo como as estratégias usadas pelos dois lados nos levará um desfecho bem sucedido", disse. O chefe da diplomacia norte-americana disse que não perdeu a esperança de que será capaz de convencer Israel e a Autoridade Palestina a voltarem à mesa de negociações. Mas Powell, que discutiu a dramática situação no Oriente Médio com Bush antes de comparecer perante a Comissão de Orçamento da Câmara, não deu indicação concreta de que Washington tenha um plano para a resolução de um conflito que apenas se agravou depois que a atual administração adotou uma atitude de desengajamento e atribuiu aos palestinos a responsabilidade de resolvê-lo.
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