Escândalos na Colômbia 'sujam' corrida eleitoral

Principais candidatos enfrentam acusações de suborno por parte de traficantes, vigilância ilegal e até uma tentativa de homicídio

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Por WILLIAM NEUMAN e CARACAS
Atualização:

Enquanto o futuro das negociações de paz com os rebeldes marxistas ainda não está definido, repentinamente, as eleições presidenciais na Colômbia tornaram-se um assunto escabroso, porque os principais candidatos e seus partidários enfrentam acusações incriminadoras sobre recebimento de suborno de narcotraficantes, vigilância ilegal e até mesmo tentativa de homicídio.

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"Esta é a campanha presidencial mais embaraçosa da nossa história recente", disse Cecilia López, ex-chefe de Gabinete da Presid|ência da República. Calúnias e mentiras dão o tom da campanha".

De um lado, está o atual presidente Juan Manuel Santos, de centro-direita, que tenta se reeleger. Santos começou as negociações de paz com o maior grupo rebelde do país, a guerrilha marxista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2012, na tentativa de acabar com praticamente 50 anos de conflitos sangrentos. As conversas mantidas em Havana, que ainda não apresentaram resultados definitivos, são o tema central de sua campanha.

Seu principal adversário, o candidato de direita Óscar Iván Zuluaga, denunciou as negociações como uma farsa e uma fraude, embora ele afirme também que poderá continuá-las se as Farc cessarem todas as suas atividades ilegais, embora não esteja claro o que isso poderia acarretar.

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Mas a disputa foi ofuscada pelo partidário mais importante de Zuluaga, Álvaro Uribe, antecessor de Santos, e defensor da política de linha dura com as Farc que continua com grande popularidade.

Ambos os candidatos fizeram parte do gabinete de Uribe, Santos como ministro da Defesa e Zuluaga como ministro do Tesouro.

Uribe apoiou Santos quando este foi eleito em 2010, mas agora se opõe energicamente a ele - e às conversações de paz.

Durante meses, a disputa não passou de um tema sonolento e muitos supunham que Santos ganharia com grande facilidade de concorrentes como Zuluaga e vários outros candidatos. Mas, nas últimas semanas, a disputa se tornou dramaticamente intensa, segundo as pesquisas de opinião.

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É provável que nenhum dos candidatos consiga mais de 50% dos votos para ser declarado vencedor no primeiro turno, no dia 25. E Santos e Zuluaga terão de se enfrentar num segundo turno decisivo, em 15 de junho.

As acusações começaram a respingar nos candidatos há cerca de duas semanas, quando a influente revista Semana publicou um artigo, assinado pelo colunista Daniel Coronell, afirmando que um chefão da droga, preso nos EUA, disse aos investigadores que ele e outros três traficantes pagaram US$ 12 milhões a um assessor de Santos, em 2011.

Os traficantes queriam um acordo para se entregarem às autoridades, e, segundo o artigo, o assessor foi pago para levar a mensagem ao presidente.

O assessor, J.J. Rendón, consultor político de origem venezuelana, que vive nos EUA, admitiu ter atuado como intermediário, mas negou ter recebido dinheiro. Entretanto, ele abandonou rapidamente a campanha de Santos, afirmando que não queria atrair uma atenção indevida.

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Então, as autoridades de Bogotá prenderam um especialista em computação que trabalha na campanha de Zuluaga, por considerá-lo suspeito de ter invadido as contas de e-mail do governo na tentativa de sabotar o processo de paz. O coordenador de campanha foi obrigado a sair.

Depois disso, um ex-ministro da Justiça, Fernando Londoño, escreveu um artigo no jornal El Tiempo, insinuando que uma tentativa de assassinato contra ele em 2012 fazia parte de um complô do governo para silenciá-lo por ter criticado as negociações de paz e "um aviso aos imprudentes sobre o custo em que incorreriam opondo-se a ele".

Um dia depois, numa entrevista pelo rádio, Uribe declarou que, em 2011, Rendón deu US$ 2 milhões por baixo do pano para ajudar a cobrir um buraco no financiamento da campanha de Santos de 2010.

Ele não apresentou provas, afirmando apenas ter sido informado do suposto pagamento um dia antes de Rendón negar a acusação.

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Segundo alguns analistas, as eleições poderão acabar se tornando um plebiscito sobre o processo de paz, embora as pesquisas mostrem que para a maioria dos colombianos a guerra de guerrilha está abaixo de questões como desemprego, saúde e criminalidade em sua lista de preocupações. No entanto, afirmam, não está havendo um debate sério sobre esses temas.

"A guerra suja impede o debate desses pontos", disse Iván Garzón, professor de ciência política da Universidade de Savannah, em Bogotá. "A campanha tornou-se uma questão de personalidade, de quem as pessoas gostam menos, Santos ou Zuluaga".

/ TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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