HAVANAOs 17 presos políticos que Cuba prometeu libertar "proximamente" devem começar a emigrar ainda hoje para a Espanha com suas famílias, de acordo com fontes da chancelaria espanhola. Ontem, eles continuavam a ser transferidos de cadeias do interior da ilha para Havana.Pelo menos dez dissidentes que devem ser soltos foram encaminhados para a clínica da prisão Combinado del Este, na capital, onde passaram por exames médicos e colocaram em dia a documentação para a viagem. Os parentes também foram transferidos de suas províncias para uma prédio do Ministério do Interior (Minint) em San Antônio de los Baños, no sudoeste de Havana, e ontem também passaram por check-ups de saúde e regularizaram seus papéis para poder emigrar. "Aqui estamos em 13 ou 14 famílias. Eles nos disseram que vamos encontrar nossos parentes presos no aeroporto, no dia da partida", disse Oleivys García, mulher do jornalista dissidente Pablo Pacheco. "Estamos esperando os resultados dos exames médicos e colocando em dia os documentos para emigrar, mas ainda não nos disseram quando vamos viajar", completou Bárbara Rojo, mulher do preso Omar Ruíz.Os 17 presos são os primeiros da lista dos 52 prisioneiros de consciência que o presidente Raúl Castro prometeu libertar em até quatro meses durante um encontro com o cardeal de Havana, Jaime Ortega, e o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, na quarta-feira. Cinco dos detentos deveriam ter sido soltos na semana passada, mas o governo não explicou por que adiou a libertação. A Igreja Católica cubana diz que a emigração é uma proposta, não uma condição do acordo. E, segundo fontes diplomáticas, os presos libertados serão entrevistados no aeroporto para que seja constatado que a saída é voluntária. Ainda assim, muitas famílias devem deixar o país por medo de perseguição política. Damas de Branco. Todos os 52 dissidentes fazem parte do grupo acusado de conspirar com os EUA e presos 2003 na chamada "Primavera Negra". Se confirmada, a libertação será a maior desde 1998, quando 101 prisioneiros políticos estavam entre os 299 detentos soltos após a visita do papa João Paulo II à ilha. As Damas de Branco, grupo de mulheres, irmãs, filhas e mães dos dissidentes presos na "Primavera Negra" disseram que "permanecerão ativas", protestando contra o governo, enquanto haja presos políticos na ilha. Segundo a Comissão Cubana de Direitos Humanos há 167 prisioneiros de consciência em Cuba. "Há mais presos políticos que os 52 que o governo prometeu libertar e por isso as Damas de Branco continuarão lutando", disse Laura Pollán, líder do grupo. De acordo com Laura, até agora 20 presos políticos teriam aceitado deixar a ilha e 6 se recusaram. Evolução da crise Morte de dissidente Em fevereiro, o preso político Orlando Zapata morreu após 85 dias de greve de fome para pedir melhorias nas cadeias da ilha. O incidente chamou a atenção da comunidade internacional para o problema dos prisioneiros políticos cubanos Greve de fome O dissidente Guillermo Fariñas substituiu Zapata em seu protesto, iniciando um jejum que duraria 134 dias para pedir a libertação de 25 presos doentes Damas de Branco Em março, mulheres, irmãs, filhas e mães de presos políticos protestaram para lembrar os sete anos das detenções na "Primavera Negra". Elas foram hostilizadas por aliados do regime Diálogo com a Igreja Em abril e junho, a Igreja Católica conseguiu que o governo autorizasse as passeatas das Damas de Branco, libertasse um preso doente e transferisse outros seis para cadeias perto de onde vivem suas famílias Acordo Na quarta-feira, o presidente Raúl Castro prometeu para a Igreja Católica e a chancelaria espanhola libertar 52 presos políticos. Fariñas suspendeu sua greve de fome Libertação. Ontem, presos políticos foram transferidos para Havana para passar por exames médicos e colocar a documentação em dia para viajar para a Espanha
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