Especialista francesa pede nova ordem internacional

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Por Agencia Estado
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O acordo assinado em Moscou pelos presidentes George W. Bush e Vladimir Putin, sobre a redução dos arsenais nucleares dos Estados Unidos e da Rússia, e a formalização de outro acordo sobre a criação do Conselho Otan-Rússia, na próxima terça-feira, em Roma, não são suficientes para que se possa prefigurar uma nova ordem internacional, capaz de assegurar a necessária estabilidade do mundo pós-guerra fria. Esta é a opinião da especialista Thérèse Delpech, do Centro de Pesquisas Internacionais de Paris (Ceri) autora de "Política do Caos", Editora Seuil, lançado agora em Paris e que constitui uma das melhores sínteses sobre a precariedade do estado institucional do planeta no presente. "No momento, os Estados Unidos são a única potência apta a oferecer sua parte na reconstrução da ordem internacional. Contudo, por enquanto Washington está mais interessada em guardar sua liberdade de ação", ela pondera, em entrevista à Agência Estado. E critica, em seguida, a atitude da Europa que, "sem largueza de vistas, presa de incontido egocentrismo, não faz o dever de casa e mascara suas deficiências acusando os americanos da prática do unilateralismo". Na sua concepção geoestratégica, Thérèse Delpech vê, antes de tudo, nos dois novos acordos, as passarelas que vão viabilizar a nova etapa da reaproximação entre a Rússia e os países ocidentais. "Os objetivos de Putin vão muito além da questão nuclear ou da segurança, é o futuro da Rússia, sua modernização, que ele encara, na verdade, nessa política de cooperação". No caso do acordo sobre o Conselho Otan-Rússia - mesmo que Moscou não disponha do direito de veto, por meio desta fórmula peculiar de integração à Aliança Atlântica - o essencial, como nota Delpech, é que o governo russo será um interlocutor privilegiado, tendo o direito de opinar sobre as questões ligadas à segurança européia, apenas com essa restrição: os russos não poderão discutir a eventual aplicação do artigo 5, o mais importante da Carta da Otan, dispondo sobre a defesa comum dos membros da organização que forem atacados. Já em relação à redução dos armamentos estratégicos, Thérèse Delpech observa, entre outras coisas, que, com a flexibilidade dos termos do acordo, os Estados Unidos poderão manter, além das 1700 a 2200 ogivas nucleares prontas e autorizadas para qualquer eventualidade, a reserva estratégica das cerca de 4 mil ogivas, a serem agora separadas ou retiradas dos respectivos suportes de lançamento. "Washington justifica, com inegável pertinência, a manutenção de tal reserva, pela necessidade de se dar o tempo adequado para prevenir eventual retorno de uma ameaça maior e, ao mesmo tempo, desencorajar qualquer veleidade a propósito de novo corrida armamentista. Nisso os americanos devem pensar na China, em particular, uma vez que, das cinco potências nucleares, ela é a única que continua aumentando seu arsenal estratégico", explica. Desdobrando a análise, a especialista francesa faz ver que os dois acordos, embora relevantes, não sugerem os contornos de uma nova ordem internacional. Ela pondera: " Desde o século 19, após todas as grandes guerras, seguiam-se os esforços para a restauração da ordem mundial. Como, no entanto, a guerra fria terminou sem conflitos, não houve idêntico sentido de urgência em relação a essa reorganização institucional. Nessa imprevidência, já perdemos 10 anos e é por isso mesmo que falo da política do caos." "Política do caos", porque, no seu entender, as grandes potências ou estão às voltas com outras prioridades ou enfrentam, como a Rússia e a China, crises econômicas, sociais e políticas que as impedem de qualquer iniciativa visando o reordenamento planetário. A isto se ajuntam outros fatores, como, por exemplo a defasagem crescente entre "os progressos dos meios de destruição e a medíocre qualidade dos estadistas e das idéias políticas atuais." "O mais grave é que essa falência dos Estados e de seus dirigentes em geral ocorre no momento em que se torna patente a ameaça de disseminação das armas de destruição de massa entre grupos terroristas como Al Qaida".

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