Após anos de ostracismo, Cuba voltou ao centro da agenda da região - e não foi só a revogação de sua suspensão da OEA que marcou esse retorno. Nos últimos meses, Havana recebeu a visita de dez presidentes latino-americanos, entrou no Grupo do Rio e reatou relações com Costa Rica e El Salvador - o que faz dos EUA o único país da região que ainda não tem laços diplomáticos com a ilha. Além disso, Cuba tornou-se o tema central dos três últimos encontros regionais, na 39ª Assembleia-Geral da OEA, na Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, e na 1ª Cúpula da América Latina e Caribe, na Bahia. "Há de fato uma projeção de Cuba na política regional, mas isso é menos o resultado de esforços do governo Raúl Castro do que de um contexto favorável", disse ao Estado o cientista político argentino José Natanson, editor da revista Nueva Sociedad. Natanson explica que líderes e grupos de esquerda que ascenderam ao poder em muitos países da América Latina têm com Havana "uma relação especial e quase afetiva pelo que ilha representou em sua história pessoal". "A isso soma-se a mudança de governo nos EUA e, em alguma medida, a abertura de Havana a novas parcerias, uma tentativa de evitar a dependência da Venezuela", disse. Hoje, o que o Hugo Chávez paga pelos médicos e professores cubanos que trabalham na Venezuela é a maior fonte de divisas da ilha. Nos últimos anos, pode ter totalizado US$ 6 bilhões. Mas a experiência da crise provocada pelo fim da URSS é um lembrete dos riscos de uma relação de dependência. "Cuba está satisfeita por ocupar o centro das discussões regionais", diz Natanson. "A questão é que, centrando a agenda num tema de importância simbólica, perdemos a oportunidade de avançar em áreas que trariam resultados concretos para países como Brasil e Argentina." Para a cubano-americana Uva de Aragón, da Universidade Internacional da Flórida, apesar de todos os esforços diplomáticos, a revogação da expulsão de Cuba da OEA não tem nenhum efeito prático. "A suspensão foi anulada, mas Cuba não poderá voltar para a organização", diz Uva. "E, mesmo que pudesse, isso não ajudaria nem mesmo a resolver os problemas básicos da população cubana, que quer liberdade para viajar e outros direitos."