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Esquerda se une na França para tentar conquistar maioria nas eleições parlamentares

Popularidade da coalizão cresce em áreas historicamente dominadas pela direita; resultado pode criar oposição forte a Macron no parlamento

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Por Redação
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ALLEX (THE NEW YORK TIMES) - A região de Drôme lembra uma França em miniatura, repleta de aldeias de pedras centenárias entre campos de lavanda e pastos entre as montanhas. Repleto de tradição e aparentemente avesso a mudanças, o vasto distrito do sudeste francês, entre Lyon e Marselha, tem sido o domínio político da centro-direita francesa nos últimos 20 anos.

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Mas com o primeiro turno de dois turnos das eleições parlamentares da França neste domingo, 12, a esquerda há muito excluída vê uma rara abertura para desafiar o presidente Emmanuel Macron, após a convincente vitória na reeleição em abril sobre Marine Le Pen, concorrente de extrema-direita.

Em grande parte inexistentes na campanha presidencial, os partidos de esquerda fragilizados da França forjaram uma aliança com o objetivo de se tornarem relevantes novamente para impedir Macron de obter a maioria no Parlamento - o que levaria a um novo mandato complicado nos próximos cinco anos.

Imagem do dia 6 deste mês mostra Marie Pochon, à esquerda, candidata da coalizão NUPES. Pochon é descrita como uma das representantes da 'nova esquerda' francesa Foto: Andrea Mantovani

Essa é a esperança de políticos como Marie Pochon, a candidata esquerdista do terceiro distrito eleitoral de Drôme, onde partidos de esquerda superaram Macron na votação presidencial em mais de 10 pontos percentuais.

Em uma parada recente em Allex, uma vila da região, Pochon foi recebida com um entusiasmo que empolga a esquerda local. “Nosso eleitorado é um laboratório”, disse Pascale Rochas, um candidato socialista local nas eleições legislativas de 2017 que agora apoia candidatura de Pochon. “Se podemos vencer aqui, podemos vencer em outros lugares.”

Drôme, de fato, é um retrato das cidades pequenas da França e dão às eleições locais as características de uma disputa nacional. Pouco tempo atrás, a região vivia a mesma desordem da esquerda a nível nacional, com os partidos isolados e falta de alianças entre si.

Os socialistas e comunistas há muito dominam as aldeias provençais do sul, enquanto os ambientalistas e a extrema esquerda lutam pelas terras agrícolas mais ameaçadas economicamente no norte.

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Entretanto, a nova aliança da esquerda, forjada sob a liderança do antigo esquerdista Jean-Luc Mélechon, agora tenta preencher as lacunas e une o próprio partido, La France Insoumise (A França Insubmissa, em tradução livre), com os socialistas, comunistas e os ambientalistas.

Mélenchon, que ficou em terceiro lugar na corrida presidencial de abril, retratou a eleição parlamentar como um “terceiro turno” de votação presidencial. Uma vitória da coalizão, obtendo a maioria na Assembleia Nacional, o faria um metafórico primeiro-ministro (o cargo é indicado pelo presidente).

A aliança permitiu à esquerda evitar candidaturas concorrentes no mesmo campo político. Em vez disso, apresentaram um único candidato em quase todos os 577 distritos eleitorais da França, aumentando automaticamente as chances de ganhar assentos no Parlamento.

Esse movimento político é descrito como o único destas eleições a apresentar alguma dinâmica no cenário nacional. O restante permanece igual à eleição presidencial recente.

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O Rassemblement National, de Marine Le Pen, não conseguiu conduzir o debate público em torno da sua agenda (insegurança econômica, imigração e crise). O sistema eleitoral em dois turnos também deve dar uma desvantagem ao partido extremista de Le Pen. Em eleições neste sistema, os candidatos moderados costumam prevalecer.


As pesquisas de opinião atualmente dão à coalizão de esquerda – chamada Nouvelle Union populaire écologique et sociale, mais comumente conhecida por sua sigla NUPES – uma chance de ganhar de 160 a 230 assentos na Assembleia Nacional de 577 assentos. Isso pode ser suficiente para interromper a agenda política de Macron no Parlamento e atrapalhar o segundo mandato dele.

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Marie Pochon, de 32 anos, é uma ativista ambiental e talvez seja a que melhor incorpore o alcance da aliança, mesmo em áreas que a centro-direita controla há muito tempo.

Nas aldeias e vilas pequenas do norte, as principais preocupações são a insegurança econômica, a falta de médicos e a falta de transporte público; no sul, a pauta principal é a produção da lavanda, considerada fundamental para a economia local e cada vez mais ameaçada pelo aumento das temperaturas.

Pochon explorou essa variedade de questões através da plataforma política da coalizão, que inclui aumentar o salário mínimo mensal para 1,5 mil euros, iniciar a transição ecológica com investimentos em energia renovável, reintroduzir pequenas linhas de trem e pôr fim às áreas sem médico. “Estamos testemunhando o surgimento de um ambientalismo rural, de um novo tipo de esquerda nesses territórios”, disse Pochon durante uma entrevista.

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