‘União da direita e esquerda por Macron pode não ser suficiente este ano’, diz analista francês

Thomas Vitiello, da Science Po Paris, comenta o primeiro turno presidencial e expectativas para a disputa entre Macron e Le Pen

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Por Cristiane Capuchinho
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2 min de leitura

PARIS - Como em 2017, Emmanuel Macron e Marine Le Pen disputarão, no dia 24, o segundo turno das eleições presidenciais da França.

Apesar de termos os mesmos candidatos do segundo turno de 2017, esta não será a mesma eleição. Quais as principais diferenças?

Esta é uma eleição que confirma a ordem eleitoral de 2017, com um enorme colapso dos grandes partidos. Há um bloco central, representado por Emmanuel Macron, que é um centro neoliberal pró-europeu. Um bloco à direita que é nacionalista e identitário, de Marine Le Pen e Éric Zemmour. E temos uma esquerda ecossocialista representada por Jean-Luc Mélenchon.

Em 2002 e 2017, houve uma reunião de votos de esquerda e direita contra Jean-Marie Le Pen e Marine Le Pen por um “cordão sanitário” contra o extremismo. Macron ainda pode se valer desse cordão francês?

Ainda existe essa frente republicana contra o nacionalismo e contra a Le Pen. É mobilizada cada vez que é necessário, e vimos isso nas últimas eleições legislativas e regionais. O Reunião Nacional tem ótimas pontuações no primeiro turno, mas no segundo é preciso ter 50% dos votos e esse é o teto de vidro da extrema direita. Macron poderá contar com essa frente, mas pela primeira vez existe uma dúvida real se essa união entre direita e esquerda será suficiente. Há cinco anos, essa era uma certeza.

Segundo turno presidencial na França será entre Macron e Le Pen, como em 2017  Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters

O que podemos esperar da campanha de Le Pen para ultrapassar esta barreira?

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Ela não precisa mais conquistar o eleitorado identitário (que se importa com questões de imigração), esses votos já são delas. Ela deve se concentrar nas questões econômicas e sociais. Vimos nesse primeiro discurso que ela fez referência à justiça social e outros temas sociais tentando atingir um eleitorado mais à esquerda.

E o que Macron terá de mudar na sua campanha para reduzir sua rejeição?

Ele não pode mais se limitar a fazer esta campanha distante, em que ele dá mais atenção às questões de política exterior. Além disso, é preciso que ele modere suas posições se quiser convencer eleitores para além da frente republicana. Por exemplo, o anúncio da reforma da aposentadoria, aumentando a idade para 65 anos, feito nas últimas semanas, vai exatamente contra tudo o que o eleitorado popular ou de esquerda está disposto a aceitar.