Cláudia TrevisanCorrespondente / Washington
Depois de nomear um cético em relação ao aquecimento global para chefiar a agência ambiental dos EUA, o presidente eleito Donald Trump escolheu um crítico do aumento do salário mínimo e da ampliação do pagamento de horas extras para comandar o Departamento do Trabalho. Dono de uma rede de fast-food, Andrew Puzder será responsável por promover melhorias nas condições de trabalho e assegurar direitos.
Sua indicação amplia o número de bilionários e CEOs no gabinete. Como Puzder, muitos deles contribuíram para a campanha de Trump. O futuro secretário do Trabalho e sua mulher, Deanna, fizeram uma doação de US$ 332 mil, segundo a Comissão Eleitoral Federal.
Sua escolha e a de Scott Pruitt para chefiar a agência ambiental indicam que o próximo governo americano reduzirá regulações de atividades econômicas - entre elas, as normas que desestimulam o uso de combustíveis fósseis e as que ampliam direitos trabalhistas.
Puzder é contrário a uma medida da gestão de Barack Obama que ampliou em quase 5 milhões o número de empregados assalariados que têm direito a receber horas extras, ao elevar de US$ 23,66 mil (R$ 80 mil) para US$ 47,50 mil (R$ 161,5 mil) o salário anual máximo dos que podem receber o benefício. A mudança deveria ter entrado em vigor no dia 1.º, mas foi temporariamente suspensa por uma decisão judicial. Agora, tudo indica que ela será revogada.
"A nova regra só vai aumentar o extenso labirinto de regulações que Obama impôs aos empregados, forçando muitos deles a compensar a elevação dos custos trabalhistas com o corte de despesas em outros lugares", escreveu Puzder em artigo na revista Forbes, em maio.
Queda de braço. Os funcionários das redes de fast-food não são sindicalizados e estão entre os mais mal pagos do país. Há anos, eles fazem uma campanha para elevar o salário mínimo do setor para US$ 15,00 por hora - o mínimo federal é de US$ 7,25. O futuro secretário do Trabalho se opõe à reivindicação e diz que o aumento da remuneração é um incentivo à automação. Segundo ele, essa será a consequência "se você tornar o emprego mais caro e a automação menos cara".
A escolha de Trump para o Departamento do Trabalho foi criticada por entidades sindicais e elogiada por organizações patronais. Chris Shelton, do Sindicato dos Trabalhadores em Comunicações, disse que Puzder seria uma boa escolha para uma agência responsável pela defesa de interesses de milionários, não de trabalhadores.
A nomeação de Puzder também não ajudará a imagem do governo Trump com as mulheres. O empresário é criticado por grupos feministas por veicular anúncios para sua rede de lanchonetes nos quais mulheres seminuas fazem gestos e movimentos de forte conotação sexual enquanto comem sanduíches. "Eu gosto de mulheres bonitas comendo hambúrgueres de biquíni. Eu acho que é muito americano", disse o empresário no ano passado em entrevista à revista Entrepreneur.
Veja algumas dessas propagandas:
Equipe. O futuro secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, aumenta a lista de bilionários que integram o gabinete de Trump. Ao lado dos generais, a "categoria" é uma das mais bem representadas entre as escolhas do futuro presidente. Mnuchin é produtor de Hollywood e ex-executivo do banco Goldman Sachs.
O Departamento de Educação será comandado por Betsy DeVos, empresária com atividades filantrópicas, casada com o herdeiro da empresa Amway. Para chefiar a pasta do Comércio, Trump escolheu o investidor Willbur Ross, um crítico de acordos comerciais que defende o aumento de tarifas na importação de produtos da China. Além dos bilhões, eles têm em comum o fato de nunca terem ocupado cargos públicos.
Escolhido para chefiar a Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt não é bilionário, mas tem fortes vínculos com a indústria do petróleo. Como procurador-geral de Oklahoma, Pruitt participou de um esforço coordenado de Estados e grandes empresas produtoras de energia para contestar as principais regulamentações adotadas pelo atual governo para limitar emissões poluentes.
Trump nomeou generais para três postos que são ocupados por civis no governo Obama. Ex-chefe do Comando Sul, John Kelly chefiará o órgão responsável por segurança interna, que abrange o combate a atividades terroristas dentro dos EUA. O Departamento de Defesa será comandado por John Mattis. O linha-dura Michael Flynn chefiará o Conselho Nacional de Segurança e despachará na Casa Branca, a poucos passos do Salão Oval.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.