Nos salões dourados do Kremlin - que já estiveram na lista de alvos dos mísseis norte-americanos -, os presidentes dos Estados Unidos, George W.Bush, e da Rússia, Vladimir Putin, assinaram nesta sexta-feira um tratado sem precedentes de redução dos arsenais de ogivas nucleares. O chamado Tratado de Moscou é o mais drástico corte dessas armas estabelecido até hoje pelos dois ex-inimigos, com uma diminuição de 6.000 para um número entre 1.700 e 2.200, razão pela qual vem sendo saudado como mais um emblema do fim da Guerra Fria. Ele terá de ser ratificado pelo Parlamento russo e pelo Congresso norte-americano para entrar em vigor. Os dois países destacaram o pacto como um marco em suas relações, cujo foco é cada vez mais econômico. "Vamos deixar de lado todas as dúvidas e suspeitas e dar as boas-vindas a uma nova era nas relações", disse Bush. "É um dia histórico para o mundo, que agora é mais seguro." O anfitrião também destacou os benefícios para o planeta. "Esta é uma ação séria para garantir a segurança internacional." Putin justificou, porém, a necessidade de ambos manterem um arsenal. "Lá fora, há outros Estados que possuem armas nucleares. Há países que querem adquirir armas de destruição em massa." Os presidentes também assinaram um documento esboçando os desafios políticos e na área de segurança, incluindo a cooperação futura na defesa por mísseis. Segundo analistas políticos, essa foi uma concessão de Washington a Moscou, que se opõe ao plano dos EUA de construir um escudo antimísseis - o qual romperia o Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM), de 1972. Eles também assinaram documentos se comprometendo a ampliar os laços econômicos, atuar mais intensamente na busca da paz no Oriente Médio e cooperar mais de perto na luta contra o terrorismo. Na sua estada em Berlim, Bush deixou claro que o tema central de seu giro europeu (ele ainda irà à França e Itália) é a guerra contra o terrorismo. Num gesto de boa vontade, Bush anunciou que pedirá ao Congresso norte-americano a suspensão da emenda Jackson-Vanik, promulgada em 1974, durante a Guerra Fria, e que impõe restrições ao comércio com a então União Soviética por causa de suas barreiras à emigração de judeus. O Senado dos EUA se recusa a eliminar a emenda enquanto a Rússia não puser fim ao banimento à compra de frango norte-americano (baixado depois que Washington impôs tarifas sobre importação de aço). Mas a cúpula Putin-Bush - iniciada na quinta-feira à noite e com término previsto para domingo - não se pautou somente pela troca de amabilidades. Bush voltou a advertir para o perigo de a Rússia contribuir para o programa de armas nucleares do Irã. Eles também divergem sobre o modo como agir em relação ao Iraque - outro tradicional aliado de Moscou - e se comprometeram a analisar essa questão em conversações bilaterais. O líder norte-americano foi comedido, porém, sobre a atuação do governo russo na república separatista da Chechênia. Disse que pretende "ajudar a pôr fim aos combates" na Chechênia e "favorecer uma solução política", e deu como exemplo para a questão chechena a ação americana no Afeganistão.