Europa luta para integrar refugiados da Ucrânia três meses após início da guerra

Países como Polônia e República Checa abriram às portas aos ucranianos, mas com prolongamento do conflito, surge o desafio de oferecer serviços básicos, abrigo e emprego

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Por Joanna Plucinska e Michael Kahn
6 min de leitura

REUTERS — Quando a torrente de ucranianos começou a atravessar a fronteira, após a Rússia invadir seu país, em 24 de fevereiro, os moradores da cidade polonesa de Rzeszów — como muitos outros habitantes de toda a Europa Central — entraram em ação para ajudar a assentar e abrigar os refugiados em fuga da guerra.

Três meses depois, a população de aproximadamente 200 mil pessoas inchou em até 50%, e o prefeito Konrad Fijolek prevê que a cidade precisará de novas escolas e alojamentos para absorver refugiados que não têm intenção de voltar ao seu país.

As pressões sobre esta cidade ilustram os desafios diante de nações centro-europeias à medida que elas se transformam para prover assistência a longo prazo para os refugiados, que são principalmente mulheres e crianças.

Imagem de 09 de março mostra ucranianos tentando deixar o país pela estação de trem de Lviv. Foto: Pavlo Palamarchuk/ Reuters

Isso inclui prover empregos, educação e aconselhamento de saúde mental. Os recém-chegados vêm cada vez mais do duramente castigado leste ucraniano, em comparação, a primeira onda de refugiados foi de pessoas que tinham conexões familiares e mais recursos, afirmam autoridades e agentes de assistência humanitária.

“Se construirmos alguns milhares de apartamentos aqui, eles certamente serão ocupados, mesmo por pessoas que querem ficar aqui só até a guerra passar, mas provavelmente uma grande parte ficará aqui mais permanentemente”, afirmou à Reuters o prefeito de Rzeszów.

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“Não temos nenhum lugar vago. Precisaríamos realmente e tentaremos construir mais apartamentos, e há um processo de integração imenso diante de nós.”

Rzeszów, à beira do Rio Wislok, a cerca de 100 quilômetros da fronteira ucraniana, tem uma Cidade Velha bem preservada e é lar de várias universidades, centro turístico regional e polo de investimentos.

Desenho de refugiados ucranianos são vistos no centro de refugiados em Rzeszów, na Polônia. Foto: Kuba Stezycki/ Reuters

Nações centro-europeias, como a Polônia, que já possuíam grandes comunidades ucranianas antes, foram destinos naturais para muitos refugiados, o que colocou pressão sobre alguns serviços e moradores locais numa região já castigada por acentuados aumentos no custo de vida.

“Entendemos que a Polônia provavelmente também está passando por dificuldades por causa disso”, afirmou Svetlana Zvgorodniuk, que deixou e Lviv, no oeste da Ucrânia, em 27 de fevereiro, acompanhada da filha e da neta. “É difícil para o Estado prover para tanta gente. Estamos muito agradecidas.”

Mais de 6 milhões de ucranianos fugiram de seu país para escapar da invasão russa, que arrasou cidades, matou milhares de pessoas e criou a maior crise de refugiados na Europa desde o fim da 2.ª Guerra.

‘Não vou expulsá-los daqui’

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Grande parte do fardo de absorver os refugiados caiu sobre a Polônia, onde 1,1 milhão de ucranianos se registraram para obter um documento nacional de identificação, de acordo com dados do governo. Esse número inclui 519 mil crianças e significa que os ucranianos passaram a corresponder a 7% das crianças que vivem na Polônia.

Voluntários trabalham em centro de recepção de refugiados em Dorohusk, na Polônia, em 28 de fevereiro. Foto: Wojtek Jargilo/ EFE

No Hotel Zacisze, no subúrbio de Rzeszów, o proprietário do estabelecimento, Krzystof Ciszewski, afirmou que pagou do próprio bolso para abrigar refugiados no espaço de casamentos de verão e ainda espera compensação do governo. Agora ele está preocupado em liberar quartos para honrar reservas de poloneses, feitas bem antes da guerra começar.

“Concordamos imediatamente que… aceitaríamos qualquer um que quisesse ficar aqui por períodos de tempo não especificados”, afirmou Ciszewski à Reuters em seu hotel, onde refugiados sentavam-se para comer em mesas de piquenique do lado de fora, servindo-se de uma variedade de salsichas e queijos.

“Demos um jeito de continuar provendo ajuda para os refugiados, mas não sei por quanto tempo conseguiremos manter. Não vou expulsá-los daqui.”

O ministro polonês encarregado de lidar com a crise de refugiados, Pawel Szefernaker, reconheceu que há problemas que precisam ser resolvidos e afirmou que acompanhará a situação em Rzeszów.

Pawel Szefernaker, ministro polonês responsável por gerenciar o fluxo de refugiados provocado pela Guerra na Ucrânia. Foto: Kuba Stezycki/ REUTERS

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Ele disse à Reuters que até agora o governo enviou 1,3 bilhão de zlotys (US$ 297 milhões) para comunidades locais para ajudar a cobrir os custos de abrigar refugiados. O governo também constituiu uma equipe para coordenar esforços de ajuda a refugiados em áreas como educação, assistência médica e política social, afirmou ele.

O prefeito de Rzeszów afirmou que muitas famílias lhe disseram que ainda não receberam compensação, apesar de estarem hospedando refugiados há meses.

“Ainda que, numericamente, haja mais refugiados em Varsóvia ou Breslávia, a escala do crescimento populacional em Rzeszów é a mais alta.”

Montanhas e grandes cidades lotadas

De cidades pequenas, como Rzeszów, e cidades grandes da região, como Varsóvia ou a capital checa, Praga, a escrita cirílica em escritórios públicos e anúncios em busca de empregos nas redes sociais sinaliza a crescente presença ucraniana na região.

Na República Checa, o verão prenuncia uma crise, pois áreas montanhosas e turísticas que abrigam grandes números de refugiados precisam de espaço para a temporada de férias que começa em junho, afirmou à Reuters o coordenador de migração da People in Need, Jakub Anderle. A entidade sem fins lucrativos com base em Praga também opera na Ucrânia.

Refugiados ucranianos fazem fila para solicitar autorização de residência na sede da polícia estrangeira de Praga em 2 de março. Foto: Michal Cizek / AFP

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“A dificuldade é que muitos deles estão concentrados ao longo das fronteiras e em áreas próximas a cidades maiores, como em áreas montanhosas, onde não há infraestrutura social suficiente, não há escolas suficientes, não há empregos suficientes, nem assistência médica”, afirmou ele à Reuters. “Este é o maior desafio.”

No Resort Eden, nas Montanhas dos Gigantes, cordilheira que se estende pela fronteira polonesa, o gerente do hotel, Jiri Licek, afirmou que o estabelecimento bancou alojamento, comida e um assistente social para os refugiados com doações locais.

E sem ter onde realocar os ucranianos, muitos deles vivendo no hotel desde o início da guerra, Licek está diante de uma temporada de verão perdida, depois que várias escolas cancelaram viagens de estudantes para lá em razão da incerteza em relação ao espaço.

“Não acho que ninguém vá nos compensar”, afirmou Licek à Reuters. “Financiamos tudo com nossos próprios recursos.”