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Europa propõe racionar energia e busca alternativas diante de corte russo e mudanças climáticas

Com risco de ficar sem o fornecimento de gás natural da Rússia e enfrentando uma intensa onda de calor, a Comissão Europeia criou um plano de energia com racionamento do gás natural

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Por Redação
Atualização:

BRUXELAS - A enorme onda de calor e a guerra da Rússia na Ucrânia estão causando um golpe duplo ao mundo, mas especialmente à Europa, derrubando o mercado de energia e forçando as maiores economias do mundo a buscarem formas de garantir eletricidade para seus cidadãos. Em meio à crise, a Comissão Europeia propôs nesta quarta-feira, 20, o racionamento de gás natural, medida vista com ressalvas dentro do bloco europeu.

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Esta semana, a Europa se viu em um ciclo vicioso com as temperaturas recordes elevando a demanda por eletricidade, mas também forçando o fechamento das usinas nucleares na região já que o calor extremo dificultava o resfriamento dos reatores. A situação fez a França elaborar um plano de renacionalização de sua concessionária de eletricidade, EDF, para reforçar a independência energética do país, renovando sua frota de usinas nucleares antigas.

Em meio a isso, a Rússia, que por décadas forneceu grande parte do gás natural da Europa, faz mistério sobre retomar os fluxos de gás no final desta semana através de um gasoduto importante. A Alemanha pressionou a União Europeia a conceder empréstimos baratos para novos projetos de gás, potencialmente prolongando sua dependência do combustível fóssil por mais décadas.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fala sobre o plano de energia para o inverno europeu Foto: JOHN THYS / AFP

Diante da possibilidade de corte no fornecimento de gás pela Rússia, a Comissão Europeia, braço executivo da UE, pediu aos 27 países membros do bloco que adotem um plano que prevê uma redução de 15% no uso de gás até o próximo ano. Os países membros teriam que aprovar a proposta e criar uma nova legislação para acompanhá-la. As medidas dariam à Comissão o poder de forçar os países membros a seguir um plano rigoroso de cortes no consumo de energia a partir deste verão no Hemisfério Norte.

“A Rússia está nos chantageando. Está usando a energia como arma”, disse a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Ela observou que “meses antes do início da guerra, a Rússia manteve o fornecimento intencionalmente o mais baixo possível, apesar dos altos preços do gás”.

A opinião pública está dividida sobre se apoiar a Ucrânia vale a pena o sacrifício, com algumas pessoas dizendo que estão prontas para receber um golpe maior para manter a resistência à Rússia e outras dizendo que a guerra os prejudicaria mais do que eles estão dispostos a aceitar.

Os europeus, especialmente aqueles que vivem nas regiões mais ricas do bloco no norte e oeste, estão entre as pessoas mais ricas do mundo, em média, e não estão acostumados a dificuldades como manter as casas frias no inverno.

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A Comissão Europeia precisa do apoio dos governos nacionais para avançar com o plano, e os ministros de energia do bloco devem se reunir em Bruxelas para debater e refinar as medidas. “Sei que é um grande pedido para toda a União Europeia, mas é necessário para nos proteger”, disse von der Leyen.

Uma mulher se refresca com a água de uma fonte no centro de Budapeste, Hungria  Foto: ZOLTAN BALOGH/EPA/EFE

Com a Rússia já tendo diminuído ou cortado completamente o fornecimento de gás para uma dúzia de países da UE, e a ameaça iminente de que não reconectará totalmente um oleoduto importante na quinta-feira que está offline para manutenção, as alternativas do bloco são escassas. O presidente Vladimir Putin da Rússia sugeriu na terça-feira que o gás natural voltaria a fluir para a Europa através do gasoduto, mas alertou que o fornecimento pode ser severamente reduzido.

A Comissão disse que as entregas de gás para a Europa foram voláteis e que as instalações de armazenamento de gás, que normalmente estão quase cheias neste momento do ano em antecipação ao inverno do Norte, não estavam suficientemente abastecidas para lidar com as interrupções.

Busca mundial por alternativas

A Europa não é a única a sentir os efeitos da turbulência energética, especialmente frente às mudanças climáticas. A China ordenou que as fábricas reduzissem o uso de eletricidade, pois temperaturas extremas derreteram telhados, racharam estradas e levaram as pessoas a abrigos antiaéreos subterrâneos. A Índia lutou para encontrar carvão para suas usinas de energia no início deste ano durante uma onda de calor precoce e prolongada alimentada pelas mudanças climáticas.

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Os efeitos em cascata da guerra e da pandemia nos preços da energia e dos alimentos puniram ainda mais os cidadãos mais pobres do mundo. Na África, mais de 25 milhões de pessoas viviam sem eletricidade, em comparação com antes da pandemia, estimou a Agência Internacional de Energia.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o maior emissor de gases de efeito estufa da história, temperaturas extremas atingiram partes do Sul e do Oeste, à medida que as perspectivas de legislação nacional sobre o clima desmoronaram na capital do país. Ao mesmo tempo, as empresas globais de petróleo relataram lucros crescentes à medida que os preços do petróleo e do gás dispararam.

Com efeito, a capacidade do mundo de desacelerar a mudança climática não foi apenas prejudicada pelos produtores dos próprios combustíveis fósseis que são responsáveis pela mudança climática, mas também desafiada pelo calor.

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Em uma conferência global destinada a reviver a ação climática em Berlim, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, chamou as mudanças climáticas de “o maior desafio de segurança” que o mundo enfrenta e instou os países a usar a guerra da Rússia como um impulso para mudar mais rapidamente para as energias renováveis. “Hoje, as energias fósseis são um sinal de dependência e falta de liberdade”, disse ela na terça-feira. A Alemanha depende do gás russo canalizado para 35% de suas necessidades energéticas.

Um grande ponto de interrogação que paira é se os legisladores da União Europeia usarão a invasão da Ucrânia para acelerar seu afastamento dos combustíveis fósseis, ou se eles simplesmente importarão gás de outros lugares que não a Rússia.

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As apostas são altas. A própria lei climática da UE exige que o bloco reduza suas emissões em 55% até 2030. Usinas de carvão estão programadas para fechamento, e não há evidências de que a Europa esteja voltando ao carvão para sempre, embora alguns países estejam retomando as operações nas usinas de carvão para atender às demandas imediatas de energia. “O carvão não está voltando”, dizia o título de um relatório publicado na semana passada pelo Ember, um grupo de pesquisa.

Os legisladores da UE também estão incentivando os proprietários de edifícios a renovar casas e empresas mais antigas para melhorar a eficiência energética. E sob a lei da UE, nenhum carro novo com motor de combustão interna deve ser vendido a partir de 2035./AP e NYT

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