Guerra na Ucrânia faz número de casamentos disparar no país e festas ocorrem em meio a bombas

Em meio a sinais de que conflito não terminará tão cedo, casais aproveitam redução da burocracia para formalizar união

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Por Redação
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KIEV - No dia de seu casamento, Tetiana quase caiu da cama em razão dos estrondos dos foguetes russos que caíram perto de sua casa, no centro da Ucrânia. “No começo, pensei que fosse trovão, mas o céu estava claro e percebi que era um bombardeio”, disse a designer, de 31 anos, ao lembrar de como correu do quarto para o corredor.

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Surpresa com a destruição provocada pelas explosões e decidida a continuar com sua cerimônia, ela e seu marido, Taras, casaram-se seis horas mais tarde. Tetiana, que pediu para não ser identificada com seu verdadeiro nome, pensou em cancelar o casamento. “Mas meu noivo disse que deveríamos continuar. A guerra não precisa arruinar nossos planos. Temos o direito de formar nossa família.”

A Ucrânia vive uma onda de casamentos. Na região de Poltava, onde Tetiana e Taras se casaram, houve 1.600 casamentos nas primeiras seis semanas após a invasão, em 24 de fevereiro. O aumento em Kiev é ainda maior. São 9.120 casamentos registrados nos primeiros cinco meses do ano, ante 1.110 casamentos ocorridos no mesmo período de 2021.

Daria Steniukova, treinadora de ioga, posa para uma foto durante a sessão de fotos de casamento em seu apartamento bombardeado em Vinnytsya  Foto: Oleksandr Demianiv/AFP - 28.07.2022

“Casar durante a guerra é o passo mais valente e difícil que pode ser tomado, pois não sabemos o que vai acontecer”, comentou Vitali, de 25 anos. A intenção dele é se casar com Anastasia, de 22 anos, antes de ir para a guerra. Na Ucrânia, os casais têm aproveitado a simplificação da burocracia. Também sem revelar seus sobrenomes, Vitali e Anastasia tinham apenas uma vaga noção sobre como oficializar o compromisso e descobriram tudo antes do casamento. “A guerra continua, é melhor casar agora”, afirmou o noivo.

Desde o início de março, o servidor público Vitali Charnikh realizou cerimônias no prédio da administração municipal e vê seu serviço como uma contribuição importante aos esforços da guerra. “Como servidor público, posso ajudar meu país apoiando emocionalmente os ucranianos.”

O militar ucraniano Vitali (D) beija sua mulher do lado de fora de um dos cartórios de Kiev logo após a cerimônia, em 23 de julho  Foto: Sergei Supinsky/AFP

Diante de um futuro incerto, jovens casais historicamente formalizam seus romances em tempos de conflito. No auge da 2.ª Guerra, em 1942, os EUA registraram 1,8 milhão de casamentos em um ano, um aumento de 83% em comparação à década anterior.

Daria Steniukova, de 31 anos, planejava se casar com Vitali Zavalniuk, de 30, mas a guerra começou um dia antes. Um míssil russo devastou sua cidade, Vinnitsia, e destruiu seu apartamento. “Ficamos chocados, mas decidimos seguir em frente”, disse a noiva. A união foi registrada com fotos tiradas no apartamento bombardeado da noiva.

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“Foi uma mensagem desafiadora para o mundo, para dizer como nós, ucranianos, somos fortes. Nós estamos prontos para nos casar, mesmo com foguetes da Rússia voando sobre nossas cabeças.”/AFP

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