As principais avenidas foram interditadas. As pirâmides abriram apenas para a comitiva presidencial, deixando centenas de turistas do lado de fora. As calçadas foram pintadas às pressas e os canteiros limpos na maior cidade árabe do mundo, escolhida para ser o local do discurso de Barack Obama para os muçulmanos. Na Universidade do Cairo, local do discurso, quase ninguém entrava. Cerca de 20 pessoas ensaiavam um protesto carregando faixas com dizeres anti-Israel. Esperava-se uma manifestação maior na Praça Tahrir, diante do Museu Egípcio, mas ontem no local havia somente alguns turistas perdidos. Representantes do movimento Kefaya, de oposição, receberam convites para o discurso de Obama, mas rejeitaram. "A visita de Obama é uma dose de oxigênio para a crise do regime de Mubarak", declarou Abdel Halim Qandi, do Kefaya, em uma entrevista coletiva na quarta-feira. Moradores do Cairo criticaram o fato de Obama não ter mencionado em seu discurso de ontem o regime autoritário do presidente egípcio, Hosni Mubarak. DIREITOS HUMANOS O estudante Ahmad Kobysu afirmou que o discurso foi pior do que ele imaginava. "Ele deveria ter dito que Mubarak não nos respeita aqui no Egito", disse o estudante. Seu amigo Mohamed Zien concorda. "Se ele falou que a democracia é direito humano, deveria ter mencionado que aqui no Egito ela não é respeitada." O ponto alto, para os dois, foi a parte do islamismo. "Ele respeitou o país, a religião e a cultura", disse Kobyusu. Zien destacou que o presidente "sabia até mesmo trechos do Alcorão". Posição igual foi a de Hosni, que não quis dar seu sobrenome, vendedor de exemplares do Alcorão em diversos idiomas no mercado Khan al-Khalili, na parte islâmica do Cairo. "Gostei de como ele mencionou o nosso livro sagrado", afirmou. Madi Ali, outro comerciante da região, foi mais crítico. "Foram apenas palavras. Queremos ver ação. Ele falou do Holocausto, mas não mencionou as mortes de palestinos em Gaza. Por que?", questionou. GLOBAL Khaled Hussein, vendedor de artesanato no mercado, ressaltou as boas intenções do presidente. Crítico de Mubarak, ele não viu problemas no fato de Obama ter omitido o nome do presidente egípcio. "O presidente veio fazer um discurso global, para todo o mundo islâmico. Não foi para se dirigir apenas para o Egito. Talvez, na reunião privada, ele tenha dito algo", afirmou Hussein.