Força de paz da ONU admite incidente fatal na República Democrática do Congo

Segundo a responsável pela Monusco, os responsáveis foram detidos à espera da conclusão das investigações

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Por Redação

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse neste domingo (31) que ficou “indignado” com o incidente fatal envolvendo as forças de paz da ONU na República Democrática do Congo (RDC), na fronteira com Uganda, que custou a vida de duas pessoas.

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Militares da Brigada de Intervenção da força da ONU (Monusco) “abriram fogo por razões não explicadas e forçaram a entrada do posto fronteiriço”, informou a missão da ONU na RDC, que desde abril do ano passado é comandada pelo general brasileiro Marcos de Sá Affonso da Costa.

Guterres manifestou-se “triste e consternado” com o incidente, ocorrido na localidade de Kasindi. Ele expressou “a necessidade de estabelecer responsabilidades por esses fatos”, e considerou conveniente “a prisão dos militares envolvidos nesse incidente e a abertura imediata de uma investigação”, indicou seu vice-porta-voz, Farhan Haq.

Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra vários homens, entre eles um com uniforme da polícia e outro com uniforme do Exército, avançando em direção ao veículo da ONU no posto de controle de Kasindi, cidade localizada no leste da RDC, no território de Beni. Após uma troca verbal, os capacetes azuis parecem abrir fogo e cruzar a barreira na fronteira de Uganda com o veículo.

Forças da ONU patrulham as ruas de Kinshasa Foto: Finbarr O'Reilly

O porta-voz do governo da RDC, Patrick Muyaya, ressaltou que as autoridades “condenam firmemente e lamentam o incidente infeliz em que 2 compatriotas morreram e outros 15 ficaram feridos, segundo um balanço provisório”.

A responsável pela Monusco, Bintou Keita, disse que estava “profundamente impactada e consternada com esse incidente grave”. “Diante desse comportamento inqualificável e irresponsável, os autores dos disparos foram identificados e detidos, à espera das conclusões da investigação, que já começou, em colaboração com as autoridades congolesas.”

Na segunda-feira passada, três capacetes azuis e mais de duas dúzias de pessoas morreram durante protestos contra a missão da ONU em várias cidades na fronteira com Uganda.

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Os protestos começaram há uma semana e levaram a um ataque e saques a algumas instalações da ONU na cidade de Goma, capital da Província de Kivu do Norte, e se estenderam às localidades de Butembo e Uvira (na vizinha Kivu do Sul).

Os manifestantes acusam a Monusco de violar os direitos humanos e pedem sua saída do país por sua incapacidade de deter a violência e os ataques de centenas de grupos armados ativos no leste do país africano.

O subsecretário-geral da ONU para as operações de paz, Jean-Pierre Lacroix, esteve no país africano no sábado para discutir a situação com autoridades. “Estudarão fórmulas para que ambos possamos evitar esses incidentes e, sobretudo, trabalhar melhor conjuntamente para alcançarmos nossos objetivos”, destacou.

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Presente na RDC desde 1999, a Monuc (Missão da ONU no Congo), que se converteu em Monusco (Missão da ONU para a Estabilização na RDC) em 2010, conta atualmente com mais de 14.000 capacetes azuis e um orçamento anual de US$ 1 bilhão (R$ 5,17 bilhões).

Quatro generais brasileiros já comandaram a Monusco, que é uma força de imposição da paz e, portanto, pode usar a força contra grupos rebeldes armados na RDC. Na época do general Carlos Alberto dos Santos Cruz - que ficou no comando entre 2013 e 2016, a Monusco desbaratou o Movimento 23 de Março (M23), principal grupo armado do leste do país, que operava principalmente na Província de Kivu do Norte. Santos Cruz foi substituído pelo general Elias Rodrigues Martins Filho, que depois foi substituído por outro brasileiro: o general Ricardo Augusto Ferreira Costa Neves. Costa Neves voltou ao Brasil e acabou promovido recentemente a general de Exército. AFP e EFE

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