Militantes palestinos armados com fuzis AK-47 e lançadores de granadas enfrentaram helicópteros e tanques israelenses no dia de combates mais sangrento desde que Israel reocupou partes da Faixa de Gaza com o objetivo de resgatar um soldado seqüestrado no último dia 25. Ao menos 21 palestinos, entre civis e militantes, e um soldado israelense morreram durante a operação de reocupação de três assentamentos judeus abandonados no ano passados durante a retirada israelenses de Gaza. Segundo a rede de TV britânica BBC, o número de palestinos mortos pode chegar a 22. O comando militar de Israel diz que o objetivo da operação é forçar três grupos radicais palestinos a libertarem o soldado Guilad Shalit, de 19 anos, e impedir os extremistas de continuar lançando foguetes contra as cidades israelenses de Sderot e Ashkelon, situadas perto do norte da Faixa de Gaza. No último mês os militantes dispararam mais de cem foguetes contra Israel e terça-feira, pela primeira vez, conseguiram atingir áreas residenciais de Ashkelon. Nesta incursão o Exército pretende estabelecer uma zona-tampão temporária, num raio de 6 quilômetros da fronteira, para deixar Ashkelon fora do alcance dos foguetes do tipo Qassam usados pelos radicais palestinos. Os tanques ficaram posicionados numa área antes ocupada por três colônias judaicas, esvaziadas em agosto - um mês antes de Israel retirar suas tropas da Faixa de Gaza, entregando o território ao controle da autoridade palestina. Ao longo desta quinta-feira, aeronaves israelenses atiraram mísseis contra os militantes, enquanto tanques tomavam posições em meio ao emaranhado de casas palestinas. Atiradores mascarados e tropas israelenses se enfrentaram em meio ao fogo disparado por helicópteros Apache, que acobertavam a operação. Segundo o ministro do Interior do governo do Hamas, Said Siyam, as forças de segurança palestinas só foram convocadas depois que tropas israelenses invadiram a Faixa de Gaza na semana passada. Siyam disse que apelou para que todas as forças de segurança deixassem suas "diferenças religiosas e morais de lado para lutar contra a agressão covarde da invasão sionista". Nos últimos dois dias, militantes palestinos ligados ao Hamas lançaram dois foguetes contra a cidade israelense de Ashkelon. Ninguém se feriu, mas os projéteis foram os primeiros a alcançar um centro israelense altamente povoado, indicando que os militantes agora contam com armamentos mais sofisticados. A ação enfureceu Israel, e um funcionário do alto escalão do governo confirmou que há planos para entrar nas densamente povoadas cidades de Beit Lahiya e Beit Hanun. "Não há outra maneira de agir contra terroristas que estão operando em meio a sua própria população civil", disse o general Ido Nehustan. Israel iniciou a atual invasão a Gaza no último dia 28, três dias depois que militantes ligados ao partido governista palestino Hamas capturarem o cabo Shalit, em uma ação contra um posto do Exército israelense próximo a fronteira de Gaza. Baixas No pior ataque aéreo israelense de hoje, pelo menos cinco palestinos morreram ao norte de Beit Lahiya. Na periferia da cidade palestina, soldados israelenses tomaram uma das casas trancando os proprietários no porão e posicionando atiradores de elite no teto do imóvel. Do lado de fora, tratores do Exército israelense construíram barricadas de areia para proteger tanques de guerra. Os militantes, por sua vez, se aproximaram das tropas israelenses por vielas estreitas e abriram fogo com fuzis AK-47 e lançadores de granadas. Vários guerrilheiros - a maioria mascarados - foram vistos carregando bombas que seriam enterradas em meio as vielas e estradas para serem acionadas durante a passagem dos tanques israelenses. Durante as pausas nos combates, mulheres e crianças palestinas eram vistas deixando suas casas a pé. Vinte e um palestinos morreram durante os ataques aéreos e trocas de tiros ao longo do dia, informaram fontes médicas palestinas. O porta-voz do ministro da Saúde palestino, Khaled Radi, disse que vários civis estariam entre os mortos. Segundo Radi, 62 pessoas ficaram feridas, sete em estado grave. Vinte dos feridos seriam crianças. De acordo com o Exército israelense, no entanto, os ataques visavam atingir exclusivamente os militantes. Um soldado israelense também morreu em um dos combates - a primeira baixa de Israel desde o início da incursão. Flexibilização Também nesta quinta-feira, Noam Shalit, pai do cabo israelense Guilad Shalit, pediu ao governo de Israel que avalie a possibilidade de libertar prisioneiros em troca da vida de seu filho. Oficialmente, as autoridades israelenses se recusam a negociar a libertação de Shalit. "Tudo tem um preço. Não acho que haverá algum tipo de iniciativa para soltarem Guilad se não houver um preço. Não seria o jeito como as coisas funcionam no Oriente Médio", disse Noam, lembrando que o país já fez concessões no passado. "Não há razão para não levar isso em consideração, para obter a liberdade de alguém que foi enviado pelo Estado para as linhas do front." Segundo o diário árabe Al-Hayat, publicado em Londres, os grupos que capturaram o soldado - entre os quais a ala militar do Hamas - reduziram suas reivindicações e estão agora exigindo a libertação de todas as palestinas presas em Israel, 30 homens que tenham cumprido mais de 20 anos de prisão e outros cem prisioneiros. No último comunicado, os militantes do Hamas haviam pedido a libertação de mais de 1.300 presos, incluindo todas as 95 mulheres e 315 menores de idade.