Dentro de duas semanas, os britânicos dirão se querem continuar sua viagem no navio da União Europeia (UE) ou preferem pôr fim a seu cruzeiro e dizer “adeus” a Bruxelas. Em 23 de junho, eles responderão à pergunta que lhes foi apresentada pelo primeiro-ministro David Cameron: Vocês escolhem o chamado Brexit (divórcio da UE) ou desejam continuar na Europa?
Prever o que os eleitores farão, no silêncio das urnas, é uma tarefa complicada. Em compensação, temos uma ideia muito clara dos votos dos outros europeus. Na sua grande maioria, os países do continente desejam que a Grã-Bretanha continue a aventura da UE.
Dois terços dos europeus (salvo os britânicos) querem que os britânicos permaneçam no bloco. A Alemanha é o país onde esse sentimento é mais forte: 79% dos alemães opinaram preferindo a permanência.
Uma outra pesquisa foi realizada para saber se os europeus acham que o Brexit vencerá o referendo. A quase totalidade dos países europeus está convencida de que os britânicos no último instante votarão a favor da permanência na União Europeia. Na França, é a opinião de 57%. Na Alemanha, de 59%.
Somente dois países pensam o contrário: Holanda e República Checa acham que Cameron vai perder a aposta e o resultado do referendo será pela saída da UE.
E os britânicos? Enquanto 43% desejam que seu país diga adeus à Europa, segundo a mesma pesquisa, uma maioria acredita que os eleitores votarão a favor da permanência na UE. Como analisar essa contradição? Mistério.
Prós e contras. Cameron persiste em sua campanha em favor da permanência. E não poupa esforços. Fala bem. É convincente, mas não consegue frear a onda de “euroceticismo”. Se de um lado a classe política se divide entre partidários da Europa e seus detratores, entre a população britânica o Brexit ganha pontos.
É surpreendente porque o lado do “sim” demonstrou claramente que uma saída da União Europeia terá efeitos funestos sobre a economia e as finanças da Grã-Bretanha e provocará o empobrecimento de todos os seus cidadãos.
Os que defendem a saída do bloco, mesmo reconhecendo que “a pílula será amarga”, respondem ao argumento econômico levando o debate para outro plano: “sim, perderemos dinheiro, mas reconquistaremos nossa soberania. Recuperaremos nosso orgulho nacional”. Vemos, assim, que a votação do dia 23 será um confronto entre coração e razão. A real pergunta é essa: como os britânicos votarão, com o coração ou com a conta bancária?
A todos esses elementos é preciso acrescentar um outro. O primeiro-ministro David Cameron, que quis esse referendo para enfrentar – e derrotar – o sentimento dos eurocéticos, se esforça ao máximo e usa de uma grande eloquência e inteligência para justificar a permanência na União Europeia.
Os britânicos lembram, no entanto, que durante anos ele disparou contra Bruxelas, sua ideologia “apátrida”, sua espantosa burocracia e a estupidez de suas decisões. Ora, hoje é o mesmo Cameron que prega o contrário.
“Cameron mudou de lado”, é o que se afirma nos pubs e nas campanhas. “E ele nos oferece uma bela ocasião para dar um grande pontapé no traseiro daqueles que nos governam, dos jornalistas, dos ‘senhores das multinacionais’”. Em resumo, outra ilustração dessa onda populista que há meses toma conta de toda a Europa. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINOÉ CORRESPONDENTE EM PARIS
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.