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O homem forte de Hollande

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Por Gilles Lapouge
Atualização:

PARIS - A França tem um novo primeiro-ministro: Manuel Valls. Ele foi nomeado pelo presidente François Hollande após a derrota sofrida pelos socialistas nas eleições municipais. A decisão, tomada "de urgência", parece um jogo de tudo ou nada. Hollande, ao constatar que a casa se incendiava, chamou rapidamente um bombeiro para apagar as chamas. E quem é o bombeiro? Manuel Valls, nascido em 1962, em Barcelona, na Catalunha. Ele requereu a nacionalidade francesa em 1982 e entrou para a política. Por que escolheu o partido socialista, não sabemos bem. O que sabemos é que o seu socialismo é particular e bastante raro: Valls é um homem que gosta de ordem. Nada de contemplação por parte desse socialista autoritário, violento, arrogante. Se o problema dos direitos humanos for invocado, algo no qual um socialista normal se detém longamente e se compraz, Valls se mostra indiferente. A propósito de seus camaradas socialistas, ele se refere à "esquerda rançosa". Detesta o que chama de "discursos de comiseração" nos quais a esquerda é excelente. Valls navega entre a brutalidade e a diplomacia. Se por um lado gosta de mostrar uma imagem de trator, macho domador de touros, sabe também negociar, demarcar seu caminho e, se necessário, travar amizade com socialistas de esquerda. Às vezes é impulsivo, mas na verdade prevê friamente as etapas da sua carreira. Há alguns meses, assistia ao declínio do ministro Jean-Marc Ayrault com tristeza e impaciência. E se preparava. Mas ele possui uma virtude de peso: coragem. É preciso coragem para aceitar o desafio que lhe foi proposto por François Hollande, de assumir o poder um dia depois do desastre eleitoral do seu partido. E há uma outra questão: como serão as relações entre o presidente da república e Manuel Valls? Hollande é um homem muito inteligente, mas é uma pessoa pacata, gentil, educada e não gosta de gritar, se impor, dar ordens. Prefere convencer. Podemos prever que o presidente não conseguirá manipular seu intratável pequeno espanhol tão facilmente como ocorria com seu bravo Ayrault. Mudança até mesmo na maneira de governar. À época de Ayrault, os ministros não eram conduzidos com mão firme. O resultado é que a carruagem seguia em todos os sentidos, com os ministros brigando e se contradizendo. Com Valls, a música será bem diferente. Haverá uma partitura e violinos e flautas solistas deverão manter a nota certa. O novo ministro terá a força e o talento para se impor? Essa é a dúvida, sobretudo se pensarmos que ele, embora muito considerado pela sociedade está bastante isolado dentro do Partido Socialista. Única certeza: não deveremos dormir.*Gilles Lapouge é correspondente em Paris.TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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