O presidente Emmanuel Macron telefonou para Donald Trump nesta quarta-feira, tentando dissuadi-lo da ideia de proclamar Jerusalém capital de Israel, pois seria renunciar a uma única solução realista: dois Estados (Palestina e Israel) vivendo lado a lado, tendo Jerusalém como capital. A União Europeia manifestou-se no mesmo sentido, por meio da chanceler europeia, Federica Mogherini.

O rei da Jordânia, Abdullah II, aliado dos EUA, advertiu Trump de que a medida lançará a região no caos. Mesmo o marechal Abdel Fatah al-Sissi, do Egito, que é submisso a Washington, implorou ao presidente americano para não complicar ainda mais o imbróglio que reina no Oriente Médio. O aliado preferido de Washington, a Arábia Saudita, também alertou Trump. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, manifestou sua cólera e ameaçou romper relações diplomáticas com Israel. Para a Liga Árabe, “Trump é um piromaníaco”.
+ Jerusalém, cidade de orações e conflitos
Não surpreende que, do lado israelense, ao contrário, a manifestação é de júbilo. Para Israel, o reconhecimento de Jerusalém como sua capital vai reparar uma terrível aberração que pesa sobre a região há 50 anos (ou seja, depois da Guerra de 1967, quando Israel anexou Jerusalém Oriental, sua Constituição de 1980 ratificou o estatuto de Jerusalém como “capital eterna e indivisível do Estado Hebreu”).
Mas, no combate diplomático, nós sabemos, há uma palavra oficial, dita em voz alta, e uma silenciosa, sufocada, inaudível, que afirma o contrário. Podemos aplicar esta regra, por exemplo, à Arábia Saudita. Como todos os árabes, o rei saudita disse a Trump que a transferência da embaixada é inaceitável. “Enquanto um Estado palestino não for criado, nenhum membro da família real saudita irá a Israel. Seria um suicídio político.”
Às vezes, ouvimos criticas abertas dos árabes aos palestinos. O escritor saudita Turki al-Hamad escreveu: “A Palestina não é mais a causa número um, depois que os donos dessa causa a venderam”. Por que essa virulência? Por que há alguns dias o Hamas recusou-se a denunciar a milícia do Hezbollah como organização terrorista?
O pecado do Hezbollah é ser uma milícia xiita e pró-iraniana, sustentada por Teerã. Segundo alguns, isso explicaria a estranha tolerância do príncipe saudita, Mohamed bin Salman, com relação a Israel. Para Riad, a partir de agora, o principal inimigo é o Irã, este grande país muçulmano, mas não árabe, que não só é xiita, mas também chefe do chamado “arco xiita”, que atravessa toda a região do Oriente Médio.
É como se, para algumas autoridades em Riad, o Irã, seus aiatolás xiitas e seus protegidos (como o Hezbollah libanês) fossem mais perigosos do que Israel. Para alguns sauditas, mesmo a força de Israel, sua posse de uma bomba nuclear, seus talentos no campo da espionagem, sua rudeza, favoreceriam os esforços de Riad para pôr fim às iniciativas dos terríveis xiitas em Teerã.
E Israel não ignora essa evolução dos acontecimentos. “Estamos dispostos a trocar informações com os países árabes moderados para frear ou conter o perigo iraniano”, declarou Gadi Eizenkot, chefe do Estado-Maior do Exército de Israel.
São palavras surpreendentes que, tendo um bom ouvido, escutamos do lado de Teerã, Riad, Tel- Aviv. O que não impedirá a cólera dos sauditas contra o projeto americano de consagrar Jerusalém como capital de Israel. Pelo menos é bom saber que, ao mesmo tempo, tanto em Riad quanto em Jerusalém, podemos ouvir outras palavras, ditas em voz baixa e no momento ainda obscuras. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO