Os agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) foram orientadas pelo governo de Donald Trump a aumentar o número de prisões diárias de imigrantes. De acordo com quatro fontes ouvidas sob anonimato pelo jornal americano The Washington Post, o presidente americano está “decepcionado” com os resultados da campanha de deportação em massa e quer aumentar de centenas para 1,2 a 1,5 mil prisões por dia.
As cotas foram determinadas no sábado, 25, em uma ligação com chefes da agência de imigração. Eles foram informados de que cada uma das sedes da agência deveria fazer 75 prisões por dia, sob ameaças de penalização de gerentes caso não sejam alcançadas.
Na opinião de agentes atuais e aposentados, as ordens aumentam significativamente a chance de que os agentes passem a realizar prisões mais indiscriminadas ou violem direitos civis à medida que se esforçam para cumprir as cotas.

O responsável da Casa Branca pela política de fronteiras, Tom Homan, disse por semanas que o ICE não faria batidas em massa e que os agentes priorizariam os imigrantes com antecedentes criminais ou que são membros de gangues. No entanto, as cotas emitidas no fim de semana colocam os agentes do ICE sob mais pressão para prender um número maior de potenciais deportados para evitar reprimenda, incluindo imigrantes que não cometeram crimes.
Nem o ICE nem Homan responderam os pedidos de posicionamento do The Washington Post. Após uma versão anterior da reportagem ter sido publicada, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse em um e-mail que “a história é falsa”, mas não respondeu quando questionada sobre detalhes.
Homan disse à ABC News em uma entrevista transmitida neste domingo, 26, que o governo está “nos estágios iniciais” do plano de deportação em massa e, embora as ameaças à segurança pública e nacional sejam prioridade, “conforme isso se abrir, haverá mais prisões em todo o país”.
Leia mais
O ICE anunciou em uma declaração neste domingo que os agentes “começaram a conduzir operações direcionadas aprimoradas hoje em Chicago”, com a ajuda de outras agências federais, incluindo o FBI. Na semana passada, o secretário interino de Segurança Interna, Benjamine Huffman, revogou uma diretriz que proibia o ICE de prender imigrantes em ou ao redor de áreas sensíveis, como escolas, hospitais e igrejas.
Segundo um funcionário do ICE, a lista de suspeitos criminais da agência é longa o suficiente para que os agentes possam continuar com o foco nos casos de ameaça à segurança pública e segurança nacional para cumprir as cotas.
No ano passado, o ICE disse aos parlamentares americanos que havia cerca de 670 mil imigrantes na lista de casos com condenações criminais ou processo criminal em andamento. Alguns cumprem penas em regime fechado.
Tempo curto
Segundo o ex-conselheiro chefe do ICE em Dallas, Paul Hunker, prender infratores graves leva tempo, equipe e planejamento — mais tempo do que as cotas permitem. “As cotas incentivarão os agentes do ICE a prender as pessoas mais fáceis de prender, em vez das pessoas que são cidadãos perigosos”, disse Hunker.
Como conselheiro-chefe da agência em Dallas, Hunker supervisionou escritórios no norte do Texas e Oklahoma de 2003 a janeiro de 2024 e diz que as cotas são novidades. “Eu nunca tinha ouvido falar disso”, disse.
A agência administra processos que englobam 7,8 milhões que enfrentam o risco de deportação, mas muitas estão em disputas judiciais nos EUA ou com alguma forma de status provisório. O volume de casos do ICE mais que dobrou durante a presidência de Joe Biden em meio a números recordes de travessias ilegais de fronteira.

Oficiais do ICE foram mobilizados agressivamente durante a primeira semana do novo governo Trump. Em seu segundo dia, na terça, menos de 400 migrantes foram detidos. Na sexta, o número diário chegou a 600 prisões. No sábado, voltou a cair para 286, de acordo com a agência.
Os apoiadores de Trump ressaltaram que esses totais não renderão os “milhões” de deportações que o presidente prometeu.
No primeiro mandato, quando fez a mesma promessa de deportação em massa, Trump atingiu o pico de 267 mil deportações em 2019. Esse número foi superado pelo governo de Biden, que deportou 271 mil pessoas em 2024 - o maior número em uma década.
Entretanto, a agência mantinha a política de evitar batidas indiscriminadas por considerá-las inseguras e contraproducentes, por espalharem pânico entre as comunidades de imigrantes e produzir uma reação pública significativa.
Agora, Trump espera que as operações ocorram 24 horas por dia e que os agentes devam cancelar licenças pessoais, de acordo com autoridades informadas sobre as ordens do presidente.
Aumento de agentes
O ICE tem cerca de 5,5 mil agentes atuando em todo o país na fiscalização da imigração, um número que permaneceu praticamente estável na última década. Para aumentar esse contingente, o governo americano mobilizou agentes do Departamento de Justiça para o ICE. Outras agências americanas, incluindo o FBI e a DEA, precisaram emprestar pessoal para a imigração.
Trump também ordenou que a divisão de Investigações de Segurança Interna do ICE mudasse o foco de contraterrorismo, tráfico de drogas, tráfico de pessoas, exploração infantil e outros crimes para a aplicação da lei de imigração.
“Mobilizar esses agentes ajudará cumprir a promessa do presidente Trump ao povo americano de realizar deportações em massa”, disse Huffman em uma declaração. “Por décadas, os esforços para encontrar e apreender estrangeiros ilegais não receberam os recursos adequados. Este é um grande passo para consertar esse problema.”