Governo Trump ordena que agência de defesa do consumidor pare de funcionar

Bureau de Proteção Financeira ao Consumidor foi criado após crise financeira de 2008, na gestão Obama

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Por Christopher Rugaber (AP)

WASHINGTON – O governo Trump ordenou que o Bureau de Proteção Financeira ao Consumidor (CFPB, na sigla em inglês) pare quase todo o seu trabalho, efetivamente fechando uma agência criada para proteger os consumidores após a crise financeira de 2008 e o escândalo dos empréstimos hipotecários subprime.

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Russell Vought, recém-nomeado diretor do Escritório de Gestão e Orçamento, deu ordens por e-mail para que o CFPB pare de trabalhar na proposição de regras, suspenda as datas de entrada em vigor de quaisquer regras que foram finalizadas, mas ainda não estavam em vigor, e interrompa o trabalho investigativo, além de não iniciar novas investigações.

A agência tem sido alvo de conservadores desde que o presidente Barack Obama impulsionou a inclusão dela na legislação da reforma financeira de 2010, que seguiu a crise financeira de 2007-2008.

Por e-mail, também ordenou que o bureau “cesse todas as atividades de supervisão e fiscalização”.

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Como o CFPB é uma criação do Congresso, seria necessário que o Congresso o eliminasse formalmente. No entanto, o chefe da agência tem poder discricionário sobre quais ações de fiscalização tomar, se forem tomadas.

Russell Vought, recém-nomeado diretor do Escritório de Gestão e Orçamento, deu ordens por e-mail para que o CFPB pare de trabalhar na proposição de regras, suspenda as datas de entrada em vigor de quaisquer regras e interrompa o trabalho investigativo Foto: Jacquelyn Martin/AP

Na rede social X, Elon Musk escreveu, na sexta-feira, “CFPB RIP” (sigla em inglês para “Descanse em paz, CFPB”). E a página inicial do CFPB na internet ficou fora do ar no domingo, sendo substituída por uma mensagem dizendo “página não encontrada”.

No sábado à noite, Vought disse em uma postagem nas redes sociais que o CFPB não retiraria mais fundos do Federal Reserve (Fed, o banco Central dos EUA), acrescentando que o financiamento atual de US$ 711,6 milhões é “excessivo”. O Congresso orientou que o bureau fosse financiado pelo Fed para protegê-lo de pressões políticas.

“Essa torneira, que há muito contribui para a falta de responsabilidade do CFPB agora está sendo fechada,” disse Vought no X.

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O CFPB afirma que obteve quase US$ 20 bilhões em alívio financeiro para os consumidores dos EUA desde sua fundação, na forma de dívidas canceladas, compensações e redução de empréstimos. No mês passado, o bureau processou a empresa de serviços bancários Capital One por supostamente enganar os consumidores sobre suas ofertas de contas de poupança de alta rentabilidade.

Dennis Kelleher, presidente do Better Markets, um grupo de defesa, disse: “É por isso que os maiores bancos de Wall Street e os aliados bilionários de Trump odeiam o bureau: ele é um policial eficaz na área financeira e esteve lado a lado de centenas de milhões de americanos — republicanos e democratas — combatendo predadores financeiros, golpistas e criminosos”.

A medida do governo contra o CFPB destaca as tensões entre as promessas mais populistas de Trump de reduzir os custos para as famílias da classe trabalhadora e seu compromisso de reduzir a regulamentação governamental.

Durante a campanha, Trump afirmou que limitaria as taxas de juros dos cartões de crédito a 10%, depois que elas subiram para níveis recordes acima de 20%, em média, à medida que o Federal Reserve aumentava as taxas de juros em 2022 e 2023. O CFPB havia começado a trabalhar em como implementar essa proposta.

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O bureau ainda pode receber reclamações, mas não pode realizar exames ou seguir investigações em andamento, de acordo com uma pessoa familiarizada com a agência, que pediu para permanecer anônima. O memorando também é interpretado como um bloqueio à comunicação da agência com as empresas que regula, defensores dos consumidores ou outros grupos externos.

A equipe de Musk também teria acesso a dados sobre reclamações, investigações e supervisão regulatória. O acesso levanta questões desconfortáveis caso a empresa de Musk, X, lance um sistema de pagamentos, já que o CFPB tem dados sobre concorrentes como o Cash App, disse a pessoa.

O e-mail de Vought segue uma diretiva similar do Secretário do Tesouro, Scott Bessent, e é o mais recente movimento do governo Trump para reduzir rapidamente o trabalho de agências federais que considera excessivas. Vought sugeriu que o CFPB é “irresponsável” em sua postagem nas redes sociais.

Obama foi o responsável pela criação do bureau após a bolha imobiliária de 2007-2008 e a crise financeira, que foi causada em parte por empréstimos hipotecários fraudulentos. Foi uma ideia da senadora democrata de Massachusetts, Elizabeth Warren, e atraiu processos de grandes bancos e associações comerciais da indústria financeira.

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Na semana passada, Warren pediu a Trump para trabalhar com o bureau para proteger os americanos contra o “de-banking”, a prática de bancos fecharem contas de clientes porque acreditam que elas representam riscos financeiros, legais ou reputacionais para os bancos.

“Eu sei que o Bureau de Proteção Financeira ao Consumidor é o alvo favorito dos republicanos neste Comitê, mas o CFPB é a principal agência do nosso governo que está ativamente trabalhando para impedir o de-banking injusto”, disse ela em uma audiência do Comitê de Bancos, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado.

O e-mail de Vought afirmou que o presidente Donald Trump o nomeou diretor interino do CFPB na sexta-feira. Trump demitiu o diretor anterior do bureau, Rohit Chopra, em 1º de fevereiro. Vought foi um dos arquitetos do Projeto 2025, um plano de políticas para a Casa Branca de Trump que o então candidato à Presidência tentou negar durante a campanha do ano passado.

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Sob Chopra, o CFPB aprovou regras para limitar as taxas de cheque especial dos bancos, reduzir taxas abusivas e propôs restrições sobre corretores de dados que vendem informações pessoais, como números de Seguro Social./Colaboraram Josh Boak, Chris Megerian e Holly Ramer

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