No sábado, 1º, o presidente americano Donald Trump concretizou uma parte importante do seu discurso de campanha e assinou uma ordem executiva para impor tarifas alfandegárias de 25% ao México e ao Canadá, assim como de 10% à China, em uma pressão para conter o fluxo de migrantes ilegais e a entrada de fentanil nos Estados Unidos.
Trump havia determinado que tarifas de 25% sobre a maioria das importações dos dois parceiros americanos — e 10% sobre produtos energéticos canadenses — entrassem em vigor à meia-noite desta terça-feira. As duas nações ameaçaram retaliações próprias, aumentando as perspectivas de uma guerra comercial regional mais ampla.
Mas nesta segunda-feira, 3, em negociações separadas, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e a presidente mexicana Claudia Sheinbaum concordaram com Trump em pausar as tarifas planejadas por pelo menos um mês. As tarifas de Trump, porém, contra a China ainda estão programadas para entrar em vigor na terça-feira.
Desde que retornou à Casa Branca em 20 de janeiro, Trump tem adotado uma diplomacia agressiva em sua luta contra os cartéis e as gangues, que foram declarados “organizações terroristas”, além de endurecer as políticas contra a imigração irregular.
As medidas, embora temporariamente suspensas, abalaram os mercados de ações, ao mesmo tempo em que prejudicaram as relações com os vizinhos norte-americanos do país.
Veja abaixo o que é preciso saber sobre as tarifas impostas por Trump.
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Quão abrangentes são as tarifas?
Todos os bens importados do Canadá e do México estarão sujeitos a uma tarifa de 25%, exceto produtos energéticos canadenses, que enfrentarão uma tarifa de 10%. As ordens também colocaram uma tarifa de 10% sobre bens chineses. Os países alvos são os três maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos.
Os setores de equipamentos elétricos e automotivos no México são os mais expostos à interrupção de tarifas abrangentes, assim como o processamento de minerais no Canadá, de acordo com economistas da S&P Global.
Nos Estados Unidos, os maiores riscos são para a agricultura, pesca, metal e produção de automóveis.

Quando entram em vigor?
As taxas sobre o Canadá e a China estavam programadas para entrar em vigor nesta terça-feira, 4. Mas as tarifas sobre as importações do México serão suspensas por um mês, após um acordo negociado entre Trump e a presidente mexicana Claudia Sheinbaum nesta segunda-feira, 3. Como parte do acordo, o México disse que iria enviar 10 mil membros de sua guarda nacional para a fronteira EUA-México.
Logo depois da negociação do México, Trump e Trudeau tiveram uma ligação na qual concordaram em também adiar as tarifas por pelo menos 30 dias, sob a promessa de que o Canadá iria aumentar sua cooperação com a segurança da fronteira, comprometendo-se em “listar cartéis como terroristas, garantir vigilância 24 horas por dia, 7 dias por semana na fronteira, lançar uma Força de Ataque Conjunta Canadá-EUA para combater o crime organizado, o fentanil e a lavagem de dinheiro”.
Qual é o impacto dessas tarifas para os americanos?
Algumas empresas podem tentar repassar o custo para seus clientes aumentando os preços. Outras podem optar por arcar com o custo da tarifa. As empresas também podem tentar forçar fornecedores estrangeiros a arcar com o fardo negociando preços mais baixos para seus produtos.
Quando Trump impôs tarifas à China durante seu primeiro mandato, estudos econômicos descobriram que a maioria desses custos foi repassada aos consumidores americanos — um cenário que provavelmente se repetirá. Isso pode significar preços mais altos em supermercados, concessionárias de carros e na hora de abastecer.
Cerca de 60% do petróleo que os Estados Unidos importam vem do Canadá. Tarifas sobre energia canadense, embora mais baixas do que para outras importações, podem levar a um aumento nos preços na bomba de combustível.
Também há preocupação com pressões inflacionárias em todos os níveis. Analistas do Goldman Sachs disseram ao The New York Times que se Trump prosseguir com tarifas em todos os níveis, isso aumentaria os preços nos Estados Unidos e desaceleraria o crescimento econômico. A maioria dos economistas espera que novas barreiras comerciais possam levar a uma explosão temporária de inflação mais alta.
Gregory Daco, economista-chefe da empresa de consultoria e impostos EY, calcula que as tarifas aumentariam a inflação, que estava em uma taxa anual de 2,9% em dezembro, em 0,4 ponto percentual neste ano. Daco projeta que a economia dos EUA, que cresceu 2,8% no ano passado, cairia 1,5% neste ano e 2,1% em 2026.
Qual a justificativa de Trump para as tarifas?
Trump disse que imporia tarifas ao Canadá e ao México porque os países vizinhos estavam permitindo que “um grande número de pessoas entrasse e o fentanil entrasse”. Seus argumentos desde o dia da posse — de que punições são necessárias para interromper o fluxo de migrantes e drogas para os Estados Unidos — seguem meses de ameaças semelhantes durante sua campanha presidencial.
Trump emitiu as ordens executivas sob uma lei chamada Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, expandindo o escopo de uma emergência nacional que ele declarou em seu primeiro dia no cargo com relação a um “influxo de estrangeiros ilegais e drogas ilícitas”.
Por que o fentanil é um problema entre EUA e México?
A DEA, o departamento antidrogas do governo americano apreendeu no ano passado 9,9 toneladas de fentanil nas fronteiras americanas, segundo dados do próprio departamento. Pelo menos 99% dessa droga vem do México.
Segundo a Casa Branca, ao justificar as tarifas, o governo do México proporciona “refúgios seguros para que os cartéis se dediquem à fabricação e transporte” de drogas.
Sheinbaum afirmou que as autoridades mexicanas apreenderam em quatro meses “mais de 40 toneladas de drogas, incluindo 20 milhões de doses de fentanil” e prenderam “mais de 10.000 pessoas vinculadas a estes grupos”.

Em declarações à AFP, o ex-embaixador mexicano Agustín Gutiérrez Canet descreveu o tom da Casa Branca como “muito duro” e “realmente muito preocupante”.
“É realmente sem precedentes que o governo dos Estados Unidos vincule formalmente, em um documento oficial, o governo mexicano com o narcotráfico”, disse.
Segundo as autoridades sanitárias americanas, o fentanil é a principal causa de morte entre americanos de 18 a 45 anos, com pelo menos 75.000 óbitos por ano, de acordo com os dados oficiais.
E qual a situação do Canadá em relação ao fentanil?
Enquanto quase a totalidade da droga vem do México, o volume de fentanil traficado via Canadá é irrisório - cerca de 1%.
Quais foram as respostas?
A ordem de Trump incluía uma promessa de aumentar as tarifas se os parceiros comerciais dos EUA respondessem com as suas próprias. Mas essa ameaça não impediu uma resposta rápida .
Antes de falar com Trump na segunda-feira, Sheinbaum havia ordenado tarifas retaliatórias, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse que aplicaria tarifas correspondentes de 25% sobre até US$ 155 bilhões em importações dos EUA.
Trudeau, também antes do acordo, pediu aos canadenses que “escolhessem produtos canadenses” ao fazer compras, efetivamente pedindo um boicote aos produtos dos EUA. Localmente, vários premiês de províncias canadenses disseram que removeriam marcas de álcool americanas das prateleiras das lojas do governo.
Até segunda-feira, a China não havia imposto novas tarifas sobre produtos dos EUA. Mas seu Ministério das Relações Exteriores disse que o governo de Pequim tomará “contramedidas necessárias para defender seus direitos e interesses legítimos”. O Ministério do Comércio disse que registraria uma queixa na Organização Mundial do Comércio pelas “práticas ilícitas dos EUA” — embora o processo de apelação da OMC tenha sido bloqueado nos últimos anos, pois várias administrações dos EUA bloquearam nomeações de juízes.
O México e o Canadá, teoricamente, estão protegidos pelo acordo de livre comércio T-MEC, assinado durante o primeiro mandato de Trump e com renegociação prevista para 2026.
Portanto, a medida poderia abrir a porta para ações legais, tanto por parte dos países quanto das empresas afetadas, em virtude dos procedimentos de solução de diferenças previstos no T-MEC./Com informações de NYT, AFP e AP.