Os guerreiros curdos do Curdistão iraquiano, conhecidos como Pesh Merga, são considerados fundamentais no combate ao ISIS no Iraque. São idolatrados de Washington a Londres, de Teerã a Tel Aviv, de São Paulo a Tóquio.
Caso este curdo, porém, lute em áreas mais próximas à fronteira do Iraque com a Síria e seja leal ao PKK, será considerado terrorista pela Turquia e sofrerá bombardeios. E não adianta argumentar que este guerreiro lute contra o ISIS. Não interessa. Para as Forças Armadas da Turquia, este curdo pode ter sido um herói em batalhas contra o ISIS que ainda assim será terrorista.
Os EUA não farão nada para ajudar este curdo, a não ser que ele cruze a fronteira para a Síria. Neste caso, ele em teoria passará a integrar o grupo curdo YPG, que é basicamente a mesma coisa que o PKK e, portanto, considerado terrorista pela Turquia. Estes "terroristas", segundo a Turquia, são, no entanto, o principal grupo na Síria combatendo o ISIS e agem em coordenação com os EUA.
Complicou? Complica mais. Estes curdos do YPG são os responsáveis por avisar os americanos onde estão os militantes do ISIS para serem bombardeados. O problema é que a Turquia passou a integrar a coalizão que combate o ISIS desde que possa também bombardear os curdos do YPG que são os principais aliados americanos no combate ao ISIS. Isso mesmo.
Mas, óbvio, a complexidade aumenta. O YPG, além de agir em coordenação com os EUA, também atua em parceria com o regime de Bashar al Assad, que é inimigo dos EUA. Mas, vale notar, o YPG é aliado de Assad e dos EUA para combater os ISIS. Não podemos esquecer, claro, que os EUA ainda consideram Assad um inimigo, assim como o Hezbollah, considerado terrorista pelos americanos, apesar de ser inimigo do ISIS. Tanto o Hezbollah quanto o regime de Assad são aliados do Irã que acabou assinar um acordo na área nuclear com todas as potências mundiais, incluindo os EUA.
Hoje, o Hezbollah e o regime de Assad, inimigos dos EUA, travam batalha contra a Frente Nusrah, que é a Al Qaeda, na fronteira da Síria com o Líbano. Esta Al Qaeda da Síria recebe apoio da Turquia, Arábia Saudita e Qatar, que são aliados dos EUA. Não podemos esquecer que a Al Qaeda, e não o ISIS ou o Hezbollah, fizeram o 11 de Setembro.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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