Assim como nesta semana em Nova York, a questão da Palestina também dividiu as Nações Unidas 64 anos atrás, quando muitas das lideranças no poder atualmente eram crianças ou sequer haviam nascido. Foram 33 votos a favor, 13 contra e dez abstenções na votação da Partilha, que culminou na criação do Estado de Israel.
Entre os que não apoiaram a divisão, além dos países árabes, estavam nações como a Grã Bretanha, Grécia, Turquia, Argentina, China, México, Colômbia, Chile e Cuba. Mas Estados Unidos e União Soviética, que eram as duas grandes potências da época, defendiam a partilha da Palestina histórica em um Estado judaico e outro árabe.
Como Moscou e Washington, o Brasil também se posicionou a favor da divisão. E um dos grandes responsáveis pela aprovação da partilha que culminou na criação do Estado de Israel foi o embaixador brasileiro Osvaldo Aranha, que presidiu a sessão histórica da Assembleia Geral da ONU. Sem os esforços do diplomata brasileiro nos dias que antecederam o voto, talvez os judeus não tivessem conseguido o reconhecimento do Estado judaico na comunidade internacional.
Devido a pressões dos americanos e soviéticos, Aranha, segundo reportagem do New York Times de 30 de novembro de 1947, pediu para que a ONU "não aceitasse adiar a votação e aprovasse de imediato a partilha, não levando em conta esforços dos países árabes para um acordo".
Uma das propostas, segundo Thomas Hamilton, que escreveu o artigo para o New York Times, era retornar a questão para o Comissão Ad Hoc sobre a Palestina, levando em conta as sugestões árabes. Estes países eram contra a divisão do território em dois países, argumentando que os árabes eram maioria mesmo no Estado judaico.
Os argumentos apresentados não convenceram Aranha, que tinha crença na solução de dois Estados. Camille Chamoun, embaixador do Líbano junto às Nações Unidas e que viria a ser presidente libanês, tentou se reunir com o diplomata brasileiro para pelo menos adiar a votação, mas foi ignorado. No fim, o embaixador do Brasil entrou para a história e hoje dá nome a um kibutz e a uma praça em Israel.
Apesar deste papel na votação da partilha, o Brasil não reconheceu imediatamente o Estado de Israel quando este proclamou a independência em maio do ano seguinte. O reconhecimento aconteceu apenas em fevereiro de 1949, com reclamações do Egito. Em resposta ao Cairo, o Ministério das Relações Exeteriores brasileiro afirmou ter tomado a decisão "depois de muitos países e não seria correto não reconhecer Israel".
Os árabes talvez tivessem mais sorte se outra nação da América Latina estivesse na presidência da Assembleia Geral. O Chile, com uma das maiores comunidades palestinas da diáspora, alterou a sua posição depois de pressões internas. O PRI mexicano, assim como Juan Domingo Perón, na Argentina, mantinha boas relações com o mundo árabe. Cuba vivia um hiato dentro da ditadura de Fulgencio Baptista, sendo governado pelo populista Ramon Grau San Martin.
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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios
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