De Beirute a Nova York

Ninguém acredita em sucesso no diálogo Israel-Palestina

As negociações de paz entre Israel e Palestina não produzirão nenhum resultado relevante no curto, médio e, desculpem o ceticismo, longo prazo. Servem apenas para o governo de Barack Obama dizer que vem se esforçando pela paz e para Israel e Palestina colaborarem com os americanos devido a benesses recebidas em troca. Ainda assim, é um avanço. O secretário de Estado, John Kerry, já fez bem mais do que a sua antecessora no cargo, Hillary Clinton.

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Por gustavochacra

Por que sou cético? Começo por Obama. O líder americano iniciou seu governo dizendo que desde o primeiro dia trabalharia para os dois lados chegarem a um acordo. Fez demandas e até delineou seu plano de Paz. Se assistisse à série House of Cards, saberia que não poderia voltar atrás. Mas voltou. Depois de defender as fronteiras de 1967 como parâmetros para o futuro Estado palestino, levou uma bronca pública de Netanyahu e nunca mais voltou a abordar o assunto.

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Além disso, Obama tanto falou ser a favor de um Estado palestino que, obviamente, passou a ser visto internacionalmente como um hipócrita ao ser contra ao reconhecimento da Palestina como Estado não-membro das Nações Unidas. Sabemos que não é fácil para um presidente americano ser favorável e nenhum outro líder americano agiria diferente. Mas Obama poderia não ter criado tantas expectativas.

O presidente, apenas neste ano, demonstrou mais realismo. Fez o correto. Foi a Israel e deixou claro que os EUA são e serão um aliado importante de Israel. E, mais importante, deu o recado de amigo - os israelenses precisam aceitar urgentemente a criação de um Estado palestino. Caso contrário, passará a haver um pressão para a concessão de cidadania aos palestinos dos territórios, o que poderia comprometer a maioria judaica.

Netanyahu, por sua vez, nunca foi simpático a um Estado palestino nos moldes defendidos pela comunidade internacional e não faz segredo de sua posição. Sua atual coalizão de poder, embora menos religiosa do que a anterior, sofre enorme influência de colonos nacionalistas. Apenas o fato de se sentar com os palestinos para negociar já é algo não tolerado por muitos de seus aliados. Para chegar a um acordo, o premiê precisaria alterar completamente a sua coalizão e, também, mudar seus pontos de vista.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, não governa sequer as áreas supostamente sob controle da Autoridade Palestina - Gaza está com o Hamas. Sua administração sem dúvida é uma evolução em relação ao seu antecessor, Yasser Arafat. A segurança aumentou. Mas a corrupção ainda existe em larga escala e não está clara qual a sua popularidade, afinal eleições na Palestina não ocorrem há anos, desde vitória do Hamas, não aceita pelos Estados Unidos.

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Para completar, temos os negociadores. No lado palestino, Saeb Erekat. Parece até piada. Ele fez toda a carreira negociando e fracassou sucessivamente. Tzipi Livni, pelo lado israelenses, é uma novidade e, além disso, seria uma das figuras mais moderadas da administração Netanyahu. Pelo lado americano, Martin Indyk, outro negociador fracassado, como Erekat, e com o adendo de ser visto como ultra pró-Israel no mundo árabe - ele trabalhou na AIPAC, principal organização lobista pró-israelenses nos EUA.

Portanto descartem qualquer possibilidade de acordo, embora  a solução para a paz entre Israel e Palestina seja óbvia. A criação de um Estado independente tendo as fronteiras de 1967 como base. Os principais blocos de assentamentos próximos à fronteira, porém, ficariam com Israel. Em troca, os palestinos receberiam terras em outras áreas. Jerusalém seria uma municipalidade unificada, capital dos dois Estados. No caso palestino, mais simbólica, com a sede da Presidência, mas com a administração e a burocracia ficando em Ramallah, a poucos quilômetros de distância (da avenida Paulista ao Morumbi). Israel reconheceria que muitos palestinos foram expulsos ou obrigados a sair na Guerra de Independência. Mas os refugiados e seus descendentes poderiam voltar apenas para o Estado palestino.

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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