Por que sou cético? Começo por Obama. O líder americano iniciou seu governo dizendo que desde o primeiro dia trabalharia para os dois lados chegarem a um acordo. Fez demandas e até delineou seu plano de Paz. Se assistisse à série House of Cards, saberia que não poderia voltar atrás. Mas voltou. Depois de defender as fronteiras de 1967 como parâmetros para o futuro Estado palestino, levou uma bronca pública de Netanyahu e nunca mais voltou a abordar o assunto.
Além disso, Obama tanto falou ser a favor de um Estado palestino que, obviamente, passou a ser visto internacionalmente como um hipócrita ao ser contra ao reconhecimento da Palestina como Estado não-membro das Nações Unidas. Sabemos que não é fácil para um presidente americano ser favorável e nenhum outro líder americano agiria diferente. Mas Obama poderia não ter criado tantas expectativas.
O presidente, apenas neste ano, demonstrou mais realismo. Fez o correto. Foi a Israel e deixou claro que os EUA são e serão um aliado importante de Israel. E, mais importante, deu o recado de amigo - os israelenses precisam aceitar urgentemente a criação de um Estado palestino. Caso contrário, passará a haver um pressão para a concessão de cidadania aos palestinos dos territórios, o que poderia comprometer a maioria judaica.
Netanyahu, por sua vez, nunca foi simpático a um Estado palestino nos moldes defendidos pela comunidade internacional e não faz segredo de sua posição. Sua atual coalizão de poder, embora menos religiosa do que a anterior, sofre enorme influência de colonos nacionalistas. Apenas o fato de se sentar com os palestinos para negociar já é algo não tolerado por muitos de seus aliados. Para chegar a um acordo, o premiê precisaria alterar completamente a sua coalizão e, também, mudar seus pontos de vista.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, não governa sequer as áreas supostamente sob controle da Autoridade Palestina - Gaza está com o Hamas. Sua administração sem dúvida é uma evolução em relação ao seu antecessor, Yasser Arafat. A segurança aumentou. Mas a corrupção ainda existe em larga escala e não está clara qual a sua popularidade, afinal eleições na Palestina não ocorrem há anos, desde vitória do Hamas, não aceita pelos Estados Unidos.
Para completar, temos os negociadores. No lado palestino, Saeb Erekat. Parece até piada. Ele fez toda a carreira negociando e fracassou sucessivamente. Tzipi Livni, pelo lado israelenses, é uma novidade e, além disso, seria uma das figuras mais moderadas da administração Netanyahu. Pelo lado americano, Martin Indyk, outro negociador fracassado, como Erekat, e com o adendo de ser visto como ultra pró-Israel no mundo árabe - ele trabalhou na AIPAC, principal organização lobista pró-israelenses nos EUA.
Portanto descartem qualquer possibilidade de acordo, embora a solução para a paz entre Israel e Palestina seja óbvia. A criação de um Estado independente tendo as fronteiras de 1967 como base. Os principais blocos de assentamentos próximos à fronteira, porém, ficariam com Israel. Em troca, os palestinos receberiam terras em outras áreas. Jerusalém seria uma municipalidade unificada, capital dos dois Estados. No caso palestino, mais simbólica, com a sede da Presidência, mas com a administração e a burocracia ficando em Ramallah, a poucos quilômetros de distância (da avenida Paulista ao Morumbi). Israel reconheceria que muitos palestinos foram expulsos ou obrigados a sair na Guerra de Independência. Mas os refugiados e seus descendentes poderiam voltar apenas para o Estado palestino.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires