As partidas ocorreram quase exclusivamente nas áreas controladas pelo regime, o que inclui as principais cidades do país - Damasco, Hama e Latakia. Aleppo, atualmente dividida, teve como representante o Al Ittihad. Os times foram divididos em dois grupos de nove times. E quatro equipes foram rebaixadas.
A realização do campeonato pode surpreender muitas pessoas. Mas guerras, incluindo as mais violentas como a da Síria, não atingem todos os lugares e tampouco ocorrem o tempo todo. Raqqa, hoje controlada pelo ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh), onde decapitações são comuns, vive uma situação totalmente diferente de Tartus, onde as pessoas aproveitaram a praia no verão Mediterrâneo e podem beber álcool sem serem importunadas.
Uma recente reportagem indicava que, em Aleppo, há áreas da cidade completamente destruídas. Mas jovens cristãos que vivem nos setores controlados pelo regime se arrumam e vão para a balada. Em Damasco, pessoas frequentam cinema e fazem compras no supermercado e nos shoppings, apesar de ouvirem tiros vindos dos subúrbios.
Obviamente, estas imagens, incluindo o campeonato de futebol, mostram apenas que as pessoas tentam sobreviver. O banho de mar em Tartus pode ser de uma mulher que torce para o marido, major do Exército, não morrer em combate. O cristão de Aleppo deve estar desempregado e desesperado para ver se consegue uma forma de escapar da cidade e se juntar ao irmão nos EUA. O casal que sai do cinema pode ter perdido o filho na guerra. E todos vivem em um cenário de incerteza, entre um regime autoritário, de um lado, e grupos ultra radicais como o ISIS e a Al Qaeda, de outro, que podem tomar suas cidades a qualquer momento.
Por este motivo, não podemos julgar os sírios porque eles seguem com o seu Campeonato de futebol. É um direito deles.
LEIA TAMBÉM NO BLOG
. Minha carta para nós brasileiros descendentes de sírios e libaneses
. Você emigraria para a Europa se fosse sírio?
. Afinal, dá para explicar a Guerra da Síria? Sim, em 10 itens no blog
. Por que a hipócrita Arábia Saudita não recebe refugiados sírios?
. Qual a geopolítica por trás da morte do bebê sírio?
. Minha carta para os europeus receberem imigrantes e refugiados da Síria
. Guia para entender o drama dos refugiados sírios na Europa
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
Comentários islamofóbicos, antissemitas, anticristãos e antiárabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco são permitidos ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes. Os comentários dos leitores não refletem a opinião do jornalista
Acompanhe também meus comentários no Globo News Em Pauta, na Rádio Estadão, na TV Estadão, no Estadão Noite no tablet, no Twitter @gugachacra , no Facebook Guga Chacra (me adicionem como seguidor), no Instagram e no Google Plus