De Beirute a Nova York

Por que a vitória de Netanyahu pode isolar Israel?

Benjamin Netanyahu, um dos mais hábeis políticos do mundo na atualidade, venceu as eleições em Israel e deve conseguir formar uma coalizão com partidos de direita, extrema direita e religiosos, permanecendo no cargo de premiê. Sua vitória surpreendeu, já que nos últimos dias o líder da coalizão de centro-esquerda União Sionista, Isaac Herzog, era visto como favorito.

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Por gustavochacra
Atualização:

Esta vitória de Netanyahu deve isolar ainda mais Israel na comunidade internacional. Os israelenses terão um líder que abertamente diz não aceitar a criação de um Estado palestino, batendo de frente com os Estados Unidos, com a União Europeia, com a ONU e com praticamente todas as nações mundiais. Até um dia atrás, Netanyahu dizia ser a favor de um país para os palestinos. Alguns afirmam que se trata de estratégia, para atrair votos de rivais na direita. Pode ser, mas a frase ficará para a história. Os palestinos a usarão eternamente para responsabilizar Israel por fracassos no processo de paz.

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Esta vitória de Netanyahu deve aprofundar ainda mais a deteriorada relação com o governo de Barack Obama nos EUA. O líder americano não suporta o premiê israelense, que o desrespeitou abertamente ao condenar a sua política externa no Congresso americano em discurso agendado com os republicanos sem consultar a Casa Branca (lembro que 80% dos judeus americanos votaram em Obama).

Esta vitória de Netanyahu deve, por fim, levar a Autoridade Palestina a tentar processar Israel no Tribunal Penal Internacional. Os palestinos, em breve, devem começar a buscar o objetivo de lutar pela cidadania israelense, já que o próprio premiê de Israel não aceita mais a criação da Palestina.

Israel finalmente terá de optar por duas de três características - ser judaico, ser democrático e ter todo o território (incluindo a Cisjordânia e Jerusalém Oriental). Pelo visto, há um risco de Netanyahu escolher ser judaico e ter todo o território, deixando de lado a democracia. Afinal, se ele criticou os eleitores árabes de Israel, é totalmente impossível imaginar que ele concederia cidadania para os palestinos.

Talvez apenas o Egito e a Arábia Saudita, entre os grandes países do mundo, tenham celebrado a vitória de Netanyahu. Os egípcios são os principais aliados dos israelenses no mundo. Os sauditas compartilham do mesmo temor de uma bomba atômica iraniana.

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Isaac Herzog estava preparado para retomar as negociações com os palestinos, restaurar as relações com Obama, voltar a se aproximar da Europa, intensificar a integração dos árabes-israelenses e melhorar a economia de Israel. Será uma importante força de oposição.

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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