De Beirute a Nova York

Sabia que todos países islâmicos são inimigos do ISIS e da Al Qaeda?

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Por gustavochacra

Há duas guerras separadas neste momento. Uma delas ocorre no Iraque e na Síria e o adversário é o ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh. Neste conflito, duas coalizões separadamente combatem esta organização que, nesta área, age como uma guerrilha ultra extremista com o objetivo de criar um califado deturpado.

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Uma das coalizões que luta contra o ISIS, conforme escrevi aqui algumas vezes, é comandada pelo Irã, com a presença do regime de Bashar al Assad, o Hezbollah e milícias xiitas iraquianas. A outra, comandada pelos EUA, tem o apoio da maior parte dos países árabes e de alguns países europeus. Ambas são aliadas das Forças Armadas do Iraque, do Líbano (comandada por um cristão) e dos curdos do Curdistão iraquiano.

Esta guerra dever durar anos. Neste momento, o ISIS vem sendo derrotado, embora esteja longe de uma derrota total. No Iraque, o governo de Bagdá, milícias xiitas, curdas e mesmo tribos árabes sunitas (curdos também são majoritariamente sunitas) devem tomar as áreas controladas pelo ISIS caso este perca no fim do conflito. Na Síria, é mais complicado. Há uma chance de outros grupos radicais, como a Frente Nusrah (Al Qaeda na Síria) ou o Jaysh al Islam substituíram o ISIS.

Neste conflito, dezenas de milhares de muçulmanos lutam diariamente contra o ISIS (e também contra a Al Qaeda). Portanto, quando perguntarem por que os muçulmanos não fazem nada para combater este grupo, responda que já fazem. São sírios, iraquianos, jordanianos, libaneses, curdos e iranianos lutando contra o ISIS e a Al Qaeda na Síria, no Iraque e em outros países da região - e, some-se a estes muçulmanos, alguns cristãos libaneses, iraquianos e sírios.

O segundo conflito, que foi tema de discurso de Barack Obama ontem, envolve a ideologia extremista, especialmente a radical islâmica, adotada e deturpada pelo ISIS e pela Al Qaeda. Esta ideologia, ultra minoritária embora crescente, atinge jovens não apenas no Oriente Médio, mas em outras partes do mundo, incluindo o Ocidente. E seus seguidores são os responsáveis por atentados terroristas.

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A dificuldade é como derrotar esta ideologia. A estratégia de Obama, que já é usada nos EUA mesmo nos tempos de Bush, envolve trabalhar com as comunidades islâmicas. Afinal, não é um conflito do Ocidente contra o mundo islâmico - até porque todos os países de maioria muçulmana do mundo, sem exceção, são inimigos do ISIS e da Al Qaeda. É um conflito entre o mundo e organizações terroristas como o ISIS e a Al Qaeda - por sinal, inimigas entre si. Nos EUA, há um relativo sucesso, visto que houve apenas um atentado desde 2001 - o da maratona de Boston, cometido por lobos solitários. Mega atentados como Londres, Madrid e Bali, além do 11 de Setembro, não ocorrem há uma década no Ocidente.

Quem afirma ser uma guerra do Ocidente contra o Mundo Islâmico, defende que os EUA entrem em conflito, por exemplo, contra o rei Abdullah da Jordânia, um aliado incondicional do Ocidente? Contra o Marrocos? Contra a Bósnia? Contra a Indonésia? Contra o Uzbequistão? Estranho, porque todos estes países são aliados americanos.

Sim, alguns braços de regimes na região teriam apoiado o ISIS e a Al Qaeda no passado. Não apoiam mais neste momento.

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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