A história da Somália é marcada por anos de guerra civil entre rebeldes islâmicos, que formam a União das Cortes Islâmicas (UCI), e senhores da guerra seculares. No dia 5 de junho, durante seu capítulo sangrento mais recente, as milícias islâmicas tomaram o controle da capital do país, Mogadiscio, e unificaram a cidade pela primeira vez em mais de uma década. A ação desafiou o governo interino, estabelecido pela ONU em 2004 na cidade de Baidoa por causa do descontrole que tomou conta de Mogadiscio depois da queda do governo central, em 1991. Nesta quinta-feira, a UCI e o governo interino assinaram um acordo de reconhecimento mútuo, cessar-fogo e fim da troca de acusações. O acordo prevê também um encontro entre as duas partes no dia 15 de julho. O objetivo é iniciar negociações para estabelecer a paz no país. Panorama Um dos países mais pobres do mundo, a Somália está situada no chamado Chifre da África e faz fronteira com Djibouti, Etiópia e Quênia a oeste; com o Golfo de Aden ao norte e com o Oceano Índico a leste. Ocupa uma área de 637.657 km² e possui uma população de 8 milhões de pessoas, composta por uma maioria muçulmana. A escassez de recursos naturais e os longos anos de guerra contribuíram para o estado critico da economia somali. O país possui uma economia de mercado, cujo setor mais importante é o da agropecuária, com a criação de gado respondendo por cerca de 40% do PIB e por cerca de 65% das exportações. A maioria das indústrias foram fechadas por causa da guerra civil. O processamento de produtos agrícolas sustenta o pequeno setor industrial do país e corresponde a apenas 10% do PIB. A Somália tem uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do mundo, com cerca de 10% das crianças morrendo pouco depois de nascer e 25% das sobreviventes morrendo antes dos 5 anos de idade. A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras considera a situação do país "catastrófica". Além disso, o Banco Mundial estima que 43% da população ganha menos de um dólar por dia e segundo os dados mais recentes, em 2002, a renda per capita anual foi de apenas US$ 226. Conheça os principais eventos da história da Somália 1º de julho de 1960: a Somalilândia, um ex-protetorado da Inglaterra, torna-se independente. 21 de outubro de 1969: o major-general Mohamed Siad Barre assume a presidência através de um golpe de Estado. Janeiro de 1991: Barre é deposto por rebeldes, que em seguida, começam a lutar entre si. Abril de 1992: uma grande operação de ajuda humanitária da ONU auxilia milhares de civis que passam fome por causa dos conflitos. Mais de 100 mil pessoas morreram entre 1991 e 1992. Agosto de 1992: aviões americanos entregam comida para a Somália. Um mês depois, fuzileiros navais chegam ao país para assegurar a entrega dos mantimentos. Dezembro de 1992: chegada das primeiras tropas americanas na Somália. Janeiro de 1993: exército americano realiza primeiro ataque aéreo contra quartéis de senhores da guerra. Outubro de 1993: milicianos derrubam um helicóptero americano Blackhawk. O incidente e uma tentativa de resgate subseqüente resulta na morte de 18 militares americanos. Soldados reduzem operações de combate contra senhores da guerra. Março de 1994: as tropas americanas se retiram da Somália, sendo substituídas por uma força de paz da ONU. Março de 1995: fuzileiros navais americanos escoltam os últimos mantenedores da paz da ONU do país, encerrando uma operação de dois anos. Agosto de 1998: atentados suicidas simultâneos destroem a embaixada americana em Nairóbi, no Quênia e em Dar es Salaam, na Tanzânia, matando mais de 200 africanos e 12 americanos. Os organizadores dos ataques fogem para a Somália. Novembro de 2002: células da Al-Qaeda atacam um hotel israelense, matando 15 pessoas. Investigadores acreditam que a ação foi executada pelos mesmos homens que organizaram os atentados contra as embaixadas. Março de 2003: o senhor da guerra Mohammed Dhere captura um suspeito de participar dos atentados de 1998 e o entrega as autoridades do Quênia. Outubro de 2004: depois de dois anos de negociação mediadas pela ONU, senhores da guerra e líderes civis reunidos em Nairóbi concordam com a formação de um novo governo comandado pelo ex-coronel Abdullahi Yusef. Março de 2005: o líder islâmico Hassan Dahir Aweys, um ex-coronel do Exército, ameaça iniciar uma guerra santa caso tropas estrangeiras entrem na Somália novamente e promete estabelecer um governo islâmico. Fevereiro de 2006: o parlamento apoiado pela ONU se reúne pela primeira vez em Baidoa, na região central do país. Março de 2006: Aliança para a Restauração da Esperança e Contraterrorismo luta contra a União das Cortes Islâmicas pela primeira vez, deixando 73 pessoas mortas na capital Mogadiscio. A milícia islâmica acusa os Estados Unidos de apoiar a aliança. 5 de junho de 2006: milícias islâmicas assumem o controle de Mogadiscio depois de sangrentos confrontos. 22 de junho de 2006: A União das Cortes Islâmicas (UCI) e o governo interino somali apoiado pela ONU assinaram um acordo de reconhecimento mútuo, cessar-fogo e fim da troca de acusações. O convênio prevê também a retomada do diálogo entre as duas partes em um encontro marcado para o dia 15 de julho, em Cartum, capital do Sudão.