Há 30 anos, os Estados Unidos invadiam o Panamá

Na primeira grande ocupação americana no pós-Guerra Fria, governo de George H. W. Bush agia sob críticas de que não era duro o suficiente contra o tráfico de drogas

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Por Renata Tranches
Atualização:

Durante a Guerra Fria, o grande inimigo americano era o comunismo. Manuel Noriega era um importante informante da CIA que contava a Washington a quantas andava a influência dessa ideologia na América Central, especialmente na fechada Cuba. 

Mas no fim dos anos 80, após a queda do Muro de Berlim, não era mais o comunismo o que preocupava o então presidente George H. W. Bush, cada vez mais pressionado a fazer algo contra o tráfico de drogas. 

Manuel Noriega passou de informante dos americanos a ditador do Panamá Foto: AP

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Em 1989, casos de morte e agressão a militares americanos e seus parentes no Panamá alçaram Noriega, que a essa altura comandava o país com mão de ferro e mantinha fortes vínculos com os principais chefes dos cartéis de drogas da região, à posição de inimigo número 1 dos EUA em se tratando de drogas. 

O ataque a militares americanos no Panamá deu o motivo e, na manhã daquela quarta-feira, 20 de dezembro de 1989, 24 mil soldados americanos desembarcaram nesse pequeno país, que na época tinha menos de 2,5 milhões de habitantes. A chamada Operation Just Cause (Operação Justa Causa, em tradução livre) tinha o objetivo de tirar Noriega do poder. 

Soldados americanos no cerco a Manuel Noriega na Cidade do Panamá Foto: AP

Os EUA conduziam assim sua primeira grande invasão desde a Guerra do Vietnã. “Essa campanha foi o marco zero da ideia de que os EUA militarizaram a guerra às drogas na América Central”, afirmou ao Estado Russell Crandall, ex-diretor principal de Hemisfério Ocidental no Departamento de Defesa americano e autor de Gunboat Democracy: U.S. Interventions in the Dominican Republic, Grenada, and Panama (Democracia com canhões: intervenções dos EUA na República Dominicana, Granada e Panamá, em tradução livre).

Como destaca Crandall em seu livro, um dos aspectos implícitos da invasão ao Panamá era que a administração Bush queria que a campanha fosse vista como uma vitória na “guerra às drogas”.

Parentes prestam homenagem a vítima da invasão americana ao Panamá Foto: Alberto Lowe/Reuters

“O Panamá tem sido usado como um santuário, um lugar de férias, um centro bancário para traficantes, um lugar para ir quando a temperatura sobe. Acredito que é improvável que o Panamá seja usado dessa maneira no futuro novamente”, declarou na época William J. Bennett, o ‘czar antidrogas’ do governo Bush.

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A panamenha Associação das Famílias dos Mortos de 20 de Dezembro fala em 2 mil civis mortos, enquanto os EUA, em 100. De acordo com a ONU, o número de mortos foi de 500.