O grupo terrorista Hamas adiou indefinidamente a libertação de reféns israelenses que deveriam sair da Faixa de Gaza no próximo final de semana. De acordo com uma declaração do porta-voz do Hamas, Abu Obeida, a medida foi tomada por conta de supostas violações do acordo de cessar-fogo entre o grupo terrorista e Israel.
Segundo o Hamas, Israel falhou em permitir o regresso dos civis palestinos ao norte de Gaza e realizou bombardeios em todo o enclave palestino durante o acordo de trégua. O grupo terrorista também acusa Israel de dificultar a entrada de ajuda humanitária.
Tel-Aviv afirma que apenas bombardeou carros que estavam em uma zona não permitida, mas permitiu a volta de palestinos ao norte do enclave. Um porta-voz do ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, classificou o anúncio do Hamas como “uma violação completa do acordo de cessar-fogo e do acordo de libertação de reféns”.

Katz afirmou que instruiu as Forças de Defesa de Israel (FDI) “a se prepararem em alerta máximo para todos os cenários possíveis em Gaza”.
Acordo
A medida ameaça inviabilizar o acordo de trégua de seis semanas alcançado no mês passado, antes do início da administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Nas últimas semanas, diversas acusações das duas partes ameaçaram prejudicar a trégua, mas os mediadores conseguiram aparar as arestas.
Nesta fase do acordo, o grupo terrorista se comprometeu a libertar 33 reféns capturados nos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, em troca de 2 mil prisioneiros palestinos. Cinco trocas foram realizadas até agora, com a libertação de 21 reféns e 730 prisioneiros palestinos. A próxima troca estava marcada para o próximo sábado, 15.
As duas partes concordaram em iniciar as negociações para uma segunda parte da trégua, mas a situação segue incerta. Caso um acordo seja alcançado para a próxima etapa, o Hamas libertaria o restante dos sequestrados vivos, principalmente soldados homens, em troca de mais prisioneiros e da “retirada completa” das forças israelenses de Gaza. O grupo terrorista ressaltou que não libertaria os reféns restantes sem o fim da guerra e uma retirada israelense completa de Gaza, enquanto o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu prometeu só encerrar a guerra após destruir as capacidades militares do Hamas.

Em uma eventual terceira fase, os corpos dos reféns restantes seriam devolvidos em troca de um plano de reconstrução de três a cinco anos que seria executado em Gaza sob supervisão internacional.
Pressão
A última libertação de reféns, no sábado passado, 8, aumentou ainda mais a pressão em cima do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, por conta da condição física dos sequestrados. Os israelenses Eli Sharabi, Ohad Ben Ami e Or Levy estavam claramente subnutridos e perderam muito peso.
Em um comunicado, o Fórum das famílias dos reféns israelenses apelou aos países mediadores para restaurarem o acordo existente.
Saiba mais
“As evidências recentes dos libertados, bem como as condições chocantes dos reféns libertados no sábado passado, não deixam margem para dúvidas – o tempo é essencial e todos os reféns devem ser resgatados com urgência desta situação horrível”, afirmou o Fórum.
Futuro de Gaza
O anúncio do Hamas ocorre após declarações de Trump nos últimos dias apontando que Washington poderia “assumir” a Faixa de Gaza. para garantir a reconstrução do enclave palestino, totalmente devastado pela guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Em uma coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, na quarta-feira passada, 5, o presidente americano disse que quer reconstruir o território e deslocar todos os mais de 2 milhões de palestinos para países próximos durante a eventual reconstrução.
Trump lançou a ideia após a visita de seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Wittkof, a Faixa de Gaza na semana passada. Em entrevista ao portal americano Axios, Wittkof afirmou que a reconstrução do enclave poderia demorar de 10 a 15 anos. “É impressionante a destruição, não há água e nem eletricidade. Foi importante ir até Gaza para ver isso”, apontou o enviado.

Um dia depois, a Casa Branca sinalizou que tropas americanas não seriam enviadas para Gaza e que o deslocamento de palestinos seria “temporário”. Trump afirmou que o Exército israelense entregaria Gaza para os americanos e que os palestinos já teriam sido deslocados.
A ideia foi recebida com entusiasmo por Netanyahu e pela extrema direita israelense, mas com muitas críticas pela oposição e países árabes da região.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou o plano de Trump como uma forma de limpeza étnica. “Na busca de soluções, não devemos piorar o problema”, disse Guterres, em uma reunião anual de um comitê da ONU que protege os direitos dos palestinos. “É fundamental manter-se fiel à base do direito internacional.
A Arábia Saudita, um importante aliado americano, criticou com dureza a ideia de Trump de assumir o controle da Faixa de Gaza, observando que seu longo apelo por um Estado palestino independente era uma “posição firme, constante e inabalável”. Riad ressaltou que não firmaria com acordo de paz com Israel sem que um Estado palestino fosse criado./com AP