Incidentes agitam Díli na véspera da posse de ministros

Novos ministros da Defesa e Interior são apontados como solução para o conflito que deixou trinta mortos e 70 mil deslocados de seus lares no Timor Leste

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Por Agencia Estado
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A capital do Timor Leste voltou a ser na noite de sexta-feira, véspera da posse dos novos ministros da Defesa e Interior, palco de incidentes violentos. No bairro de Bemori foram registrados tiroteios entre grupos partidários do primeiro-ministro, Mari Alkatiri, e dos militares que se rebelaram no final de março exigindo o fim da discriminação étnica. Moradores do bairro afirmaram que não houve feridos, mas reconheceram que o incidente demonstra que a situação não é segura na capital. Também na sexta-feira, centenas de pessoas saquearam um escritório do governo em Díli e roubaram computadores e móveis de escritório, sem que as tropas estrangeiras interviessem. O padre salesiano Antonio Transfiguração, do seminário de Dom Bosco, disse que têm grandes dificuldades para fornecer água e serviços higiênicos mínimos aos 13.000 refugiados acolhidos por esse centro católico. O sacerdote acrescentou que todas atenções estão voltadas para os passos que dará o governo após a posse neste sábado do influente ministro de Exteriores, José Ramos Horta, como ministro da Defesa, e de Alcino Baris, como ministro do Interior. Ambos substituem, respectivamente, Roque Rodrigues e RogérioLobato, homens próximos a Alkatiri desde os dias do exílio na África, onde se refugiaram após a sangrenta ocupação do Timor Leste pela Indonésia em 1975. Raízes da violência A onda de violência que desde o final de abril agita o Timor Leste teve como ponto de partida uma revolta liderada por recrutas do exército que reclamavam de maus-tratos e discriminação por parte dos oficias da corporação. As raízes do conflito, no entanto, remetem aos 24 anos de enfrentamentos entre rebeldes e o governo de ocupação indonésio, que só deixou o Timor em 1999. Isso porque os militares revoltados são na sua maioria timorenses da parte oeste do país, os "loromonos", que durante a luta contra a ocupação indonésia defenderam a anexação do território ao país vizinho. Já a cúpula do exército é formada majoritariamente pelos "lorosaes", ex-guerrilheiros da parte leste da ilha que defenderam a independência. À instabilidade gerada por essa disputa étnica, somam-se fatores como a complicada situação econômica e social do país, devastado pelos anos de guerra civil. Além disso, com a saída das forças de paz das Nações Unidas, no início de 2005, o Timor Leste sofre um vácuo de autoridade que o presidente Xanana Gusmão tenta preencher ao assumir o comando das forças de segurança timorenses.

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