Após dois adiamentos consecutivos, o Parlamento iraquiano aprovou ontem o acordo com Washington que estabelece a retirada das forças dos EUA do Iraque até 2011. Grupos sunitas apoiaram o projeto depois que a coalizão do premiê Nuri al-Maliki cedeu à exigência de um referendo - marcado para 31 de julho de 2009. Se aprovado pela população, o documento determinará a retirada americana de zonas urbanas e a submissão de soldados dos EUA às leis iraquianas já em 2009. Os EUA deverão partir gradualmente até 2011. RISCOS A tensão latente entre xiitas e sunitas representa a maior ameaça à aplicação do acordo, afirmaram especialistas ao Estado. Para Stephen Biddle, do Council on Foreign Relations, apesar da recente melhora nas forças de segurança iraquianas, o risco de retomada da violência sectária aumenta sem os EUA. "Trata-se de um caso clássico de guerra civil, que não pode ser resolvido pelo aparato de segurança do próprio Iraque", defendeu Biddle. Com grupos armados paralelos ao Estado, como o Exército Mehdi, do líder xiita Moqtada al-Sadr, e as milícias sunitas que se rebelaram contra a Al-Qaeda, a estrutura descentralizada da política iraquiana levaria a uma intensa - e potencialmente explosiva - disputa pelos vácuos de poder deixados pelos EUA. A opinião é compartilhada por Matthew Duss, do Center for American Progress. Para Duss, entretanto, a resposta definitiva sobre a capacidade do Iraque de construir um Estado viável e controlar a violência passa também por "decisões centrais sobre temas como federalismo e petróleo - questões que continuam sem resposta". Outra ameaça que paira sobre a retirada é o acúmulo de poder do atual primeiro-ministro, um xiita. Maliki já teria pessoalmente se apropriado de partes importantes das forças de segurança iraquianas e, para Biddle, "a possibilidade de ele se tornar uma espécie de ?Saddam Hussein xiita? é extremamente preocupante".