CARACAS - Os EUA anunciaram na sexta-feira, 28, que tentarão viabilizar uma mediação internacional entre o governo e a oposição da Venezuela, que desde o começo de fevereiro intensificou os protestos contra o presidente Nicolás Maduro. O anúncio foi feito pelo secretário de Estado americano, John Kerry, depois de encontro com a ministra das Relações Exteriores da Colômbia, María Ángela Holguín.
"Estamos trabalhando em conjunto com a Colômbia e outros países para ver como pode ser produzido algum tipo de mediação (na Venezuela), porque já ficou provado que é muito difícil que os dois lados cheguem a um acordo", afirmou Kerry.
Tanto o chefe da diplomacia americana quanto a chanceler colombiana não deram, porém, detalhes sobre como seria uma possível mediação e não fizeram outros comentários sobre o tema.
Ao ser consultada, a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, disse que o diálogo entre governo e oposição "pode exigir a mediação de terceiros". "A questão é saber quem é esse mediador adequado. Esse terceiro ator precisará ser alguém que o governo e a oposição confiem."
Antes do anuncio feito por Kerry, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, em visita ao Brasil, acusou os EUA de terem "condenado a priori" a Venezuela e por terem se negado a reconhecer que Maduro se "limitou a cumprir com seu dever de preservar a lei e a ordem". "A Venezuela não é um país de bárbaros, mas uma nação democrática e pacífica", disse Jaua.
Manifestações. Hoje, mesmo durante o feriado nacional de carnaval, adiantado por Maduro, novos protestos contra o governo foram organizados pela oposição. Barricadas foram montadas em alguns bairros de Caracas e manifestações de rua foram organizadas em Valencia, Mérida e San Cristóbal.
Em Valencia, um militar morreu baleado ao retirar barricadas da rua, elevando para 18 o número de mortos nos protestos. Em pronunciamento, Maduro anunciou a intenção de estabelecer conferências em todos os Estados. "Acredito que o país sairá vitorioso se nos encontramos cara a cara para conversar."
As Nações Unidas criticaram na sexta-feira as autoridades venezuelanas pelo elevado número de prisões realizadas durante as manifestações e pediram que uma investigação "completa, independente e imparcial" seja realizada em todos os casos de mortos e feridos. A ONU ainda pede que os responsáveis por violações sejam levados à Justiça.
A alta-comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, condenou a violência em Caracas, "independentemente de quem sejam os responsáveis", e insistiu que o governo precisa garantir o respeito pela liberdade de expressão e de manifestação.
Pillay criticou abertamente o governo pelo "grande número de pessoas que foram presas, assim como os informes que indicam que algumas se encontram em regime de isolamento". Desde o início das manifestações, 579 pessoas foram presas.
A ONU pediu que o governo garanta que "ninguém seja penalizado por exercer seu direito de manifestar pacificamente". "Aqueles que foram presos apenas por estarem exercendo seu direito precisam ser soltos imediatamente."
A alta-comissária da ONU ainda expressou sua "profunda preocupação" com do que chamou de "uso excessivo da força" por parte das autoridades ao responder às manifestações. / AP e AFP, COM JAMIL CHADE
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