Durante boa parte da existência de Israel, o kibutz expressou seus mais altos ideais: trabalho coletivo, amor pela terra e igualitarismo básico. Mas a partir dos anos 80, quando o socialismo vivia uma espiral descendente no mundo todo e o país estava atolado na hiperinflação, os cerca de 250 kibutzim de Israel pareciam condenados. Suas dívidas cresceram e suas salas de refeições coletivas se esvaziaram com a saída dos jovens. Agora, num terceiro ato surpreendente, os kibutzim estão novamente prosperando, mas têm menos a ver com um socialismo puro e mais com uma espécie de versão suburbana dele. Na maioria deles, os serviços de alimentação e lavanderia estão agora privatizados; em muitos, as casas podem ser transferidas para membros individuais - e os recém-chegados podem comprá-las. Apesar de o patrimônio principal dos kibutzim continuar sendo a propriedade coletiva, as comunidades são hoje geridas, em grande parte, por administradores profissionais e não por voto popular. Mais importante, nem todos recebem a mesma remuneração. Mas as pessoas novamente estão fazendo fila para morar nos kibutzim. "O que amamos aqui é a simplicidade", disse Boaz Varol, de 38 anos, que pedala sua bicicleta até o trabalho numa piscina, que já foi de uso comunal, mas que ele hoje aluga e administra como um negócio privado no Kibutz Yasur, nas montanhas da Galiléia ocidental. "Cada um faz o que quer, temos a nossa independência, mas sem o tipo de competição que há lá fora." Há dois anos, Varol comprou uma casa no Kibutz Yasur para sua família por US$ 71 mil. Outros 60 jovens adultos aderiram nos últimos quatro anos, aumentando em 50% o número de residentes e trazendo vida nova para a população que envelhecia. Os Varols são parte de uma tendência. Em abril, o Kibutz Negba, no sul, aceitou 80 novos membros em um dia. Muitos kibutzim têm listas de espera - a maioria formada por antigos residentes, mas também moradores de cidades querendo fugir da agitação urbana. Os kibutzim já foram comunas de pioneiros que drenaram pântanos, dividiam roupas (e, às vezes, parceiros) e viviam de acordo com o lema marxista "De cada um segundo suas habilidades, a cada um segundo suas necessidades". Hoje, a maioria está experimentando um processo de privatização, ainda que funcionários de kibutz prefiram um termo mais eufemístico: renovação. SEGURANÇA E ECONOMIA O novo kibutz procura um equilíbrio mais sutil entre responsabilidade coletiva e liberdade individual, com ênfase na comunidade e em valores. Seus atrativos incluem qualidade de vida, preços baixos e um ambiente seguro, geralmente em meio à natureza, longe das cidades marcadas por atentados suicidas. É uma mudança e tanto em relação aos últimos anos. Em 2000, mais da metade das 257 fazendas coletivas de Israel estavam em situação falimentar. A crise econômica expôs uma crise ideológica. A segunda geração de filhos do kibutz começou a se rebelar. Com a segurança vitalícia que o kibutz supostamente devia oferecer ameaçada, os jovens começaram a sair. "No fim dos anos 90 havia kibutzim sem ninguém da nova geração", disse Gavri Bargil, diretor do Movimento do Kibutz Pior. Depois de décadas de trabalho, os fundadores, agora na faixa dos 80 anos, ficaram sem casa ou pensão próprias. Parte da recuperação envolveu a venda da gigante israelense de laticínios Tnuva, que pertencia parcialmente aos kibutzim. A venda lhes rendeu US$ 500 milhões para estabelecerem fundos de pensão. No passado, os membros de kibutzim eram remunerados igualitariamente, seja para ordenhar vacas ou administrar uma indústria. No novo kibutz, eles ganham salários ou recebem remunerações refletindo a renda que produzem. "Não é a igualdade total, mas igualdade básica", disse Bargil. "O novo kibutz não é perfeito, mas economicamente estamos melhor", disse Ami Kilon, que nasceu em Yasur e hoje é o administrador do kibutz. "O incentivo para trabalhar aumentou, e após muitas mudanças administrativas, agora estamos nos sustentando em nossas próprias pernas."
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.