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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | Mudanças no Mercosul mostram a disposição do Brasil em negociar tarifas com os EUA

Bloco concordou em ampliar exceções à Tarifa Externa Comum em meio ao tarifaço de Donald Trump e Brasília assumiu a dianteira em negociações com Washington apesar das diferenças ideológicas

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Foto do author Lourival Sant'Anna

A guerra comercial levou o Brasil a ceder às pressões argentinas para ampliar a lista de exceções do Mercosul, expondo de um lado a disfuncionalidade do bloco e, de outro, a disposição do governo Lula de negociar com os Estados Unidos.

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Em reunião de chanceleres em Buenos Aires, os quatro membros concordaram em elevar de 100 para 150 o número de códigos de produtos sobre os quais cada país pode aplicar alíquotas diferentes da Tarifa Externa Comum (TEC). No total, são mais de 10 mil. Mas o aumento de 50% é significativo, porque se trata dos produtos estratégicos para cada país.

Com a alíquota adicional de 10% imposta por Trump ao Brasil e à Argentina, os EUA se equipararam ao Mercosul, cuja tarifa média é de 11,8%. A média americana era, antes, de 2,5%. A ampliação da lista de exceções abre espaço para Brasil e Argentina negociar com os EUA e outros parceiros.

Ministros de Relações Exteriores dos países do Mercosul se reuniram nesta sexta-feira, 11; a partir da esq: Ruben Ramirez Lezcano (Paraguai), Celina Sosa Lunda (Bolívia), Gerardo Werthein (Argentina), Mauro Vieira (Brasil) e Mario Lubetkin (Uruguai) Foto: Ministério das Relações Exteriores da Argentina

Apesar das diferenças ideológicas com Trump, o governo Lula assumiu a dianteira, em relação aos outros países, nas negociações com os EUA. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que encabeça o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, já teve no mínimo seis conversas com o representante de Comércio, Jamieson Greer, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick. O primeiro é responsável por negociações e o segundo, pela ampliação de mercados.

O vice-presidente é percebido pelos americanos como um negociador com mandato forte, pragmático e de propósito firme, e as negociações são descritas como amigáveis e focadas. Na quarta-feira, enquanto Trump anunciava a suspensão das tarifas recíprocas, Greer dizia no Congresso que não haveria recuo. Mesmo assim, Washington avalia que o Brasil está falando com as pessoas certas e não há necessidade de negociação direta entre Trump e Lula.

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Apesar da proximidade de Trump, Javier Milei não é visto como ponta de lança dos EUA na região, e o Brasil é reconhecido como única potência da América Latina. Mesmo em meio ao atual tumulto, representantes de cerca de 90 empresas, em sua maioria americanas, participaram da feira Trade Winds, promovida pelos EUA, entre os dias 7 e 9 em São Paulo, e anunciaram planos de investimentos no Brasil nas mais diversas áreas, como agricultura, maquinário, aeroespacial, educação e entretenimento.

Uma delegação de dezenas de empresas instaladas no Brasil deve participar da feira Select USA, entre os dias 11 e 16 de maio, em Washington. O interesse em aprofundar os negócios entre os dois países reflete uma visão de que em três meses a questão tarifária estará resolvida. O prazo coincide com o da suspensão das tarifas recíprocas de Trump.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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