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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | O passo à frente de Biden e Bolsonaro; leia análise

A Cúpula das Américas marca um progresso nas relações entre os dois governos

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Foto do author Lourival Sant'Anna

A Cúpula das Américas colocou em evidência as divergências entre os presidentes dos dois países mais importantes do continente, Estados Unidos e Brasil, sobre os temas mais importantes da pauta: democracia e meio ambiente. Ao mesmo tempo, a simples ida de Jair Bolsonaro, e a reunião a portas fechadas com Biden, parecem ter melhorado a forma como um vê o outro.

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Normalmente, no início de uma reunião entre dois governantes, a imprensa é convidada apenas para o registro de imagens, e eles se limitam a frases sem substância. Não foi o caso. Biden leu um texto e Bolsonaro falou sem ler, mas também tinha um roteiro claro. Isso revela uma preocupação de ambos de mostrar a seus eleitores que seguem fiéis a seus princípios.

“Por causa de sua democracia vibrante e inclusiva, instituições eleitorais sólidas, nossas nações estão ligadas por valores compartilhados”, leu Biden. Era uma crítica a Bolsonaro embalada como elogio ao Brasil. Biden foi vítima da estratégia de Donald Trump, de preparar o terreno para não aceitar a derrota na eleição de 2020.

Jair Bolsonaro e Joe Biden sorriem após participação na Cúpula das Américas. Imagem é desta sexta-feira, 10, dia do encerramento do evento Foto: Jim Watson/AFP

“Neste ano, temos eleições no Brasil, e nós queremos, sim, eleições limpas, confiáveis, e auditáveis, para que não sobre nenhuma dúvida após o pleito”, respondeu Bolsonaro. “Tenho certeza que será realizada neste espírito democrático. Cheguei pela democracia e tenho certeza que, quando deixar o governo, também será de forma democrática.” A aparência de uma garantia esconde uma condição: o presidente é que dirá se a eleição foi justa e, portanto, se sua saída é democrática.

Bolsonaro ainda associou a democracia a uma liberdade de expressão acima dos controles contra fake news impostos pelas redes sociais – o que de novo o coloca no campo oposto ao de Biden.

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Sobre o meio ambiente, Biden afirmou: “Ao tentar proteger a Amazônia, que é o maior sumidouro de carbono do mundo, acho que o mundo deve participar e ajudá-lo no financiamento para preservar o quanto possível. É uma responsabilidade internacional em que todos nós nos beneficiamos.”

Bolsonaro: “Às vezes nos sentimos ameaçados em nossa soberania nessa região. Mas o fato é que o Brasil preserva bem seu território, tanto que dois terços do território brasileiro é preservado. Mais de 85% da Amazônia brasileira é preservada. Nossa legislação ambiental é muito estrita.” O desmatamento e o descumprimento da lei aumentaram no governo dele, e é isso o que importa, não o estoque de floresta que resta.

Por outro lado, Bolsonaro acertou ao ir à cúpula, ocupando o vazio deixado pelo presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador. E também ao tratar do desaparecimento do jornalista britânico e do indigenista brasileiro em seu discurso na plenária. Nesse sentido, o evento marca um progresso nas relações entre os dois governos. Ainda que a motivação dele fosse provar que não está isolado no mundo.

*É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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