Macron discute papel da Europa em manutenção da paz na Ucrânia em reunião sem participação dos EUA

Reunião em Paris, sem a presença do representante americano, ocorreu em meio à crescente preocupação com o apoio americano sob Donald Trump

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Por Redação
Atualização:

PARIS - O presidente da França, Emmanuel Macron, reuniu nesta terça-feira os chefes de 34 forças armadas para discutir a manutenção da paz na Ucrânia e a supervisão de qualquer cessar-fogo. O encontro, sem a presença do representante americano, ocorreu em meio à preocupação crescente na Europa com a aproximação entre os Estados Unidos de Donald Trump e a Rússia de Vladimir Putin.

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No mesmo dia em que europeus e aliados discutiam uma força multinacional para atuar na Ucrânia, o país aceitou a proposta de cessar-fogo com a Rússia oferecida pelos Estados Unidos. Em troca, os americanos devem retomar o apoio militar e o compartilhamento de dados de inteligência que haviam sido interrompidos. O Kremlin ainda não se manifestou sobre a trégua.

O breve comunicado emitido pelo Palácio do Eliseu após o encontro afirma que os chefes de estado-maior concordaram que qualquer força enviada à Ucrânia deve ser planejada para um compromisso de longo prazo. Além disso, deve oferecer apoio incondicional ao Exército ucraniano e não deve estar desconectada da Otan e de suas capacidades. “É o momento para a Europa exercer todo o seu peso, pela Ucrânia e por si própria”, disse Macron.

Emmanuel Macron recebe chefes militares em Paris para discutir manutenção da paz na Ucrânia.  Foto: Sarah Meyssonnier/Associated Press

Os países representados na reunião, convocada em parceria com o Reino Unido, eram principalmente europeus, mas incluíam Japão, Canadá e Nova Zelândia. A ampla participação refletiu a insatisfação com a pausa da ajuda militar americana à Ucrânia e a aproximação de Trump com posições de Vladmir Putin.

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Logo após a reunião, os Estados Unidos anunciaram a retomada do apoio militar e do compartilhamento de informações com a Ucrânia como parte das negociações pelo cessar-fogo na Arábia Saudita.

“Acho que este é um momento importante e sua presença aqui envia um sinal real”, disse o general Thierry Burkhard, chefe do estado-maior militar da França, aos oficiais presentes no início da reunião.

A percepção na Europa de modo geral é que defender a Ucrânia é crucial para defender o continente das ambições de Vladimir Putin. Com apoio dos Estados Unidos, que têm sido o principal garantidor da segurança europeia desde a 2ª Guerra, cada vez mais incerto, a região tem buscado o rearmamento.

“Quem pode acreditar que a Rússia de hoje vai parar na Ucrânia?” questionou Macron em um discurso à nação na semana passada. “Enquanto falo, e por muitos anos ainda, a Rússia se tornou uma ameaça para a França e para a Europa.”

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O ministro da Defesa francês, Sébastien Lecornu, acrescentou na terça-feira que o novo desafio enfrentado pela Europa “não é tanto a ameaça russa, mas acima de tudo a imprevisibilidade de nosso parceiro americano”.

Ainda não está claro, contudo, como uma força europeia de manutenção da paz se posicionaria na Ucrânia. Embora o país tenha sinalizado que está disposto a ceder e se comprometido com a trégua, a Rússia não deu nenhuma indicação pública de que aceitaria um cessar-fogo. E seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse no mês passado que qualquer mobilização de forças europeias no território ucraniano seria “claramente inaceitável”.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, falou anteriormente sobre a necessidade de uma força de segurança com 200 mil soldados, mas isso parece estar muito além da capacidade da Europa. Uma mobilização menor, na casa de dezenas de milhares parece mais plausível, talvez complementada por um contingente aéreo.

“Talvez de 15 mil a 20 mil soldados europeus, o suficiente para dissuadir, mas não tão grande a ponto de ser visto por Moscou como um corpo de batalha da Otan”, sugeriu Camille Grand, especialista em defesa do Conselho Europeu de Relações Exteriores, em Bruxelas. Com isso, seria possível ter três linhas de defesa: o Exército ucraniano, a força europeia de segurança e, ao fundo, uma capacidade de reforço com poder aéreo.”

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Tropas ucranianas disparam contra posições russas em Donetsk. Kiev aceitou proposta de cessar-fogo americana, mas Moscou ainda não respondeu.  Foto: Roman Chop/Associated Press

Ainda assim, há complicadores para a criação de uma força de paz europeia na Ucrânia. Além da hostilidade russa e da possível falta de apoio americano, há o risco de que a Rússia arraste essas tropas para a guerra, embora Macron tenha prometido que os soldados “não se envolveriam em combate na linha de frente”.

Em paralelo à discussão sobre o envio de tropas para manutenção da paz na Ucrânia, a Europa intensificou as discussões para garantir a própria segurança. Na quarta-feira, os ministros da Defesa de França, Reino Unido, Alemanha, Itália e Polônia se reúnem em Paris, com a participação virtual da contraparte ucraniana./NY TIMES

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