‘Maduro é ditador e nenhuma visita vai mudar isso’, diz Juan Guaidó

Em entrevista ao ‘Estadão’, opositor considerado presidente pelos EUA fala de aproximação americana do regime venezuelano

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Por Fernanda Simas
5 min de leitura

Com a guerra na Ucrânia, os EUA recorreram à Venezuela em uma tentativa de isolar a Rússia de seus aliados e ter uma alternativa de fornecimento de petróleo em razão das sanções ao regime de Vladimir Putin. A ação foi vista por analistas como um golpe ao opositor Juan Guaidó, que se proclamou presidente venezuelano em 2019 e foi reconhecido pelo ex-presidente Donald Trump. “Os EUA são um país soberano e um dos principais apoiadores da causa democrática venezuelana. Agora, vamos deixar claro, Maduro é um ditador, tem relações com o narcotráfico e representa uma ameaça não apenas para a Venezuela, mas para o continente”, disse Guaidó em entrevista ao Estadão.

Para Guaidó, democracia trará bem-estar e dignidade à Venezuela Foto: LEONARDO FERNANDEZ VILORIA

Como está a negociação política na Venezuela?

O que impede uma negociação e um acordo é a ditadura de Nicolás Maduro. As propostas da Alternativa Democrática têm a intenção de avançar para um acordo. Mas a ditadura impede isso. Há um sistema de garantias, apresentado com o levantamento de sanções e uma data para eleição presidencial, que é a solução para acabar com o conflito, que se alargou demais e afeta toda a região, com a questão de migração, terrorismo, narcotráfico, devastação do Amazonas venezuelano.

Há uma união dos opositores venezuelanos?

Aqui só há oposição. Há uma tentativa da ditadura de sequestrar partidos e financiá-los, subornar dirigentes. Há diferenças entre os grupos (opositores), mas estamos de acordo em uma renovação da liderança, para chegar a essa eleição presidencial e conseguir uma vitória. Para isso, precisamos nos juntar em torno de uma só liderança.

Como atrair os jovens que deixaram a Venezuela?

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A primeira coisa é ter democracia. Com ela, vêm o bem-estar, as oportunidades, o estado de direito, investimentos privados para poder recuperar os empregos e podermos viver outra vez com dignidade. Com isso, vem o processo de reconstrução do país, de segurança. É importante destacar que o venezuelano tem vontade de voltar. Hoje, são quase 7 milhões de venezuelanos que migraram. Vamos superar a Síria a qualquer momento e não estamos em guerra.

Com a guerra na Ucrânia, os EUA se aproximaram da Venezuela para uma eventual negociação sobre petróleo. Como o sr. viu essa aproximação?

Os EUA são um país soberano e um dos principais apoiadores da causa democrática venezuelana. Agora, vamos deixar claro, Maduro é um ditador, tem relações com o narcotráfico e representa uma ameaça não apenas para a Venezuela, mas para o continente. Hoje, Maduro é um pária ideológico. Até mesmo Gustavo Petro (esquerdista, candidato presidencial da Colômbia) não fala de Maduro como sendo uma referência. Maduro é um ditador e nenhuma visita vai mudar isso.

Qual a importância de os líderes da esquerda da América Latina condenarem a situação na Venezuela?

O distanciamento de alguém que viola os direitos humanos, um ditador investigado por tortura e perseguição, é cada vez maior. Essa é uma posição acertada diante do que representa Maduro e da tragédia para os venezuelanos, que tem repercussão muito grave na região.

O país tem capacidade de produzir petróleo para amenizar o impacto da guerra na Ucrânia?

A Venezuela tem reservas de petróleo. Para transformá-las em produção é preciso investir milhões de dólares em razão da deterioração. A Venezuela continua tendo potencial energético, mas lamentavelmente a produção está em baixa, entre 600 mil e 700 mil barris ao dia. Portanto, para recuperar nossa capacidade produtiva e exportadora temos de ter investimentos e, para isso, precisamos ter segurança jurídica. Uma empresa privada precisa de estabilidade.

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O que ainda mantém Maduro no poder?

Principalmente as Forças Armadas. O segundo elemento é a estrutura de grande corrupção que a ditadura criou para atender aos grupos que são beneficiados, não só na Venezuela, mas internacionalmente.